Quantas oportunidades julgamos eternas, quando elas mal duram tempo suficiente para pronunciar a palavra “provisórias”.
TEXTO: Elaine Regina Vaz
REVISTA VICEJAR - LITERATURA ( Crônica )
A minha casa é dividida em duas. Há a casa de cima, onde moro, e o térreo onde meu pai mora e aonde vou algumas vezes, mas, no geral, de forma despretensiosa, muito mais no espírito de quem folheia um livro sem um interesse sério do que no de Sherlock Holmes, a esquadrinhar cada centímetro dos cômodos caçando pistas para descobrir o assassino.
Naquele dia, eu fui fazer qualquer coisa lá, que não lembro agora, e fui mais a fundo na matéria. Entrei no antigo quarto dos meus pais, onde eu e minha irmã também dormimos por muito tempo, e que atualmente é mais um porta-treco gigante e bem seguro de si: sem camas e sem viventes, apenas cheio de coisas se esforçando para ver quem toma mais espaço em relação às outras. Foi quando me deparei com ela. Ou melhor, com a ausência dela: a única janela que existia ali havia simplesmente desaparecido.
E, enquanto a perplexidade me levava a murmurar coisas óbvias do tipo “nossa… fecharam a janela...”, fui me aproximando daquela inquilina que eu tinha acabado de conhecer. Seu reboco, mais novo do que o do resto da parede, ainda mostrava o seu antigo contorno, deixava claro o que ela tinha sido. Agora ela estava lá, quieta, resignada à nulidade que lhe impuseram. A janela sumiu, havia sido selada por todo o sempre, e eu nem sequer sabia do fato.
Quantas outras janelas nas nossas vidas também se vão do mesmo modo. Quantas oportunidades julgamos eternas, quando elas mal duram tempo suficiente para pronunciar a palavra “provisórias”.
As janelas não são para sempre. Nem as físicas, nem as metafóricas. Enquanto jogamos carteado com o velho medo ou com a dúvida, a vida pode estar terminando de cimentar, bem ao lado, a abertura por onde poderíamos vislumbrar uma solução ou escorraçar um obstáculo.
Sim, as janelas não são para sempre. E não esperemos que elas nos digam quando irão embora. É melhor que saibamos aproveitar enquanto a paisagem que encaramos é genuína e cheia de possibilidades, e não um quadro de tinta a óleo de algum artista desconhecido qualquer, comprado num lugar do qual nem sequer lembramos o nome.
Sim, as janelas não são para sempre. E não esperemos que elas nos digam quando irão embora. É melhor que saibamos aproveitar enquanto a paisagem que encaramos é genuína e cheia de possibilidades, e não um quadro de tinta a óleo de algum artista desconhecido qualquer, comprado num lugar do qual nem sequer lembramos o nome.
TEXTO: Elaine Regina Vaz
INSTAGRAM: @elainereginavaz
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Ah... as janelas... dependem sempre do olhar de alguém.
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