“Acredito que as ditas cruzes só servem para preparar os nossos ombros para todo o bem que ainda teremos o prazer de carregar.”
REVISTA VICEJAR – ARTIGOS E OPINIÕES
A palavra “cruz” vem do latim crux e designa uma figura com duas linhas que se cruzam formando um ângulo de 90º, dividindo uma delas ou ambas ao meio. A cruz também já foi, numa época da história, o instrumento de tortura ao qual os condenados eram pregados para padecerem até a morte (fato bastante conhecido ao longo das eras através da crucificação de Jesus).
Ela também é um símbolo sagrado em religiões, como a católica. Existe a cruz latina, a cruz papal, a cruz de São Pedro, a cruz de Santo Antônio e muitas outras. Mas existe um tipo de cruz interessante, largamente falado e que pertence tanto a santos quanto a pecadores. É a dita cruz que cada um carrega.
Eu sou da opinião de que todo mundo tem o seu pedaço de inferno. Assustador, mas verídico. É uma constatação. Quando conheço alguém que parece ter uma vida perfeita, sempre me pergunto: “Qual é a dor dessa pessoa?”.
E, conhecendo esse homem ou essa mulher um pouco melhor, obtenho a resposta. Descubro suas lutas, seus traumas, seus sofrimentos ainda não superados, suas perdas. Não se enganem: não existe essa pessoa que no bojo da vivência só carrega as coisas boas da vida. Sempre há alguma dor, sempre.
Há alguns anos, no meio de uma aula, um professor meu contou uma parábola sobre alguém que tinha perdido o ser amado para a morte e quis fazer um acordo com ela para ressuscitar a pessoa que amava. A morte então lhe disse: “Corra o mundo e ache alguém que nunca teve nenhum sofrimento, se você achar essa pessoa e me trazê-la, então ressuscito aquele que você ama”.
O resultado da história já podemos imaginar. O tal andarilho rodou o mundo e não achou o que procurava. O trato com a morte nunca foi cumprido porque o que ela pediu era impossível de achar.
Como eu penso que tudo tem um propósito, acredito que as ditas cruzes só servem para preparar os nossos ombros para todo o bem que ainda teremos o prazer de carregar. Elas servem como base para comparação, porque somente conhecendo a dor sabemos o real valor dos momentos alegres. E também nos preparam para os desafios que se apresentarão mais à frente, tornando-nos mais fortes, mais decididos e mais persistentes.
Há a expressão “entre a cruz e a espada”, mas acho que muitas vezes ambas são a mesma — vai a espada dentro da cruz. Se soubermos achar a espada e usá-la, a cruz ganha outro significado e nos tornamos pessoas que sabem que há sempre o preço de tudo e que entendem que aquilo que tanto nos pesa é a verdadeira lâmina, é o aço destinado a cortar ao meio tudo que ao nosso caminho parecia barreira inquebrantável.
TEXTO: Elaine Regina Vaz
INSTAGRAM: @elainereginavaz
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Impressionantemente verdadeiro! 'não existe essa pessoa que no bojo da vivência só carrega as coisas boas da vida' e essa condição nos faz heróis de nossa própria história. Como sempre, viajei em cada palavra sua. Parabéns!
ResponderExcluirDeia, você é INCRÍVEL, obrigada pelo comentário. Que honraaaa. Beijo
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