O paradigma do estacionamento permitido

“Hoje em dia é praticamente impossível andar duas ou três quadras sem observar pelo menos uma infração”

REVISTA VICEJAR – ATUALIDADE E COMPORTAMENTO


Segundo dicionários, paradigma pode ser entendido como o “padrão que serve como modelo a ser imitado ou seguido”. Em linhas gerais, é uma regra criada que passa a ser imitada ou seguida pelos demais sem pensar, por não necessitar ser compreendida.

No caso específico deste texto, a imitação refere-se ao equivocado costume de estacionar carros em lugares proibidos como se fossem permitidos.

Vamos recordar três ou quatro décadas atrás, quando o número de automóveis era bem inferior ao dos dias de hoje. Naquela época, o espaço disponível para estacionar próximo ao destino que se pretendia chegar era bem maior. Por esse motivo, raras vezes alguém parava ou estacionava em fila dupla, próximo à esquina ou na própria esquina, em locais de via rápida com faixa amarela, em vagas para cadeirantes ou idosos, etc.

Isso só acontecia em caso de emergência ou extrema necessidade e, na enorme maioria das vezes, durava o tempo exato para resolver aquela urgência. Aproveitadores, que usavam de má fé ou má vontade, eram casos incomuns.

Infelizmente, com o aumentar da frota de veículos e, consequentemente, da distância entre a vaga disponível e o destino, essa atitude desrespeitosa passou a acontecer com mais frequência. E, na medida que se sucediam, também influenciavam pessoas que costumavam cumprir a regra, mas que eram suscetíveis a opiniões alheias, a dar um “jeitinho” de parar ou estacionar próximo ao lugar onde desejavam ir, mesmo que em local proibido. Assim deu-se a criação de um paradigma lamentável.

Hoje em dia é praticamente impossível andar duas ou três quadras sem observar pelo menos uma infração, mesmo em casos onde haja o risco de provocar um acidente. A maioria passou a imitar o mau comportamento que era de uma minoria.

E todo tipo de desculpas são usadas para tentar justificar o injustificável. Mas em quase todos os casos, o fato de estacionar em local proibido é apenas um comodismo desnecessário e arbitrário. Quatro desses casos me chamam atenção especial.

No primeiro, a infração ocorre em locais próximos a algumas academias de ginástica da cidade. Não entendo! Se o sujeito vai a uma academia, certamente irá para se exercitar. Até onde sei, caminhada também é um tipo de atividade física bastante aconselhável pelos médicos. Porque então não estacionar 30, 50, 100 metros distantes e “caminhar” até o destino. Não seria um contrassenso?

No segundo caso, a violação à lei ocorre nas proximidades do Fórum, do Tribunal de Justiça, onde o princípio do direito individual e coletivo busca ser preservado. Vários carros tomando a faixa amarela das esquinas, quando não, estacionados na própria esquina, são diariamente flagrados. Fico pasmo! Se grande parte daqueles que frequentam tal espaço estão lá para defender a lei, porque começam essa empreitada desrespeitando-a. Não seria um total despropósito?

No terceiro caso, a falta ocorre próximo a igrejas ou templos, onde a fila dupla assemelha-se a um estacionamento. Veja bem! Se aqueles que convivem nesses locais estão indo lá para aprender a “amar ao próximo como a si mesmo”, então deveriam afastar de seus corações atitudes egoístas como o proveito próprio em detrimento ao direito dos demais. Parece-me que estão buscando sua salvação começando justamente numa falha. Não seria uma enorme contradição?

No quarto caso, a desobediência à lei ocorre nas escolas, nos horários de entrada e saída dos alunos, nas paradas irregulares e perigosas. Fico espantado! Não posso aceitar que pais levando os filhos para lugares onde o foco é a educação cometam um ato de tão grande falta de educação. Querem passar conhecimento e valores aos filhos mostrando total insubordinação às regras. Não seria uma grande incoerência?

Talvez seja o sinal dos tempos, ou talvez eu esteja acumulando aniversários e ficando um pouco ranzinza. Mas o que vejo claramente é que todos discursam sobre a necessidade de sermos mais saudáveis, leais, fraternos e educados, só que isso tudo começa com atitudes que afastem o egoísmo e não que o alimente.

Dificilmente se consegue alcançar um destino se você começa dando passos na direção errada. Pense nisso!








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