A maioria migrou para as grandes
cidades, trocando a difícil rotina da lavoura pelo conforto que a vida urbana começava
oferecer.
REVISTA VICEJAR – ARTE E
CULTURA (Música)
MÚSICA: Riqueza
- Composição: (Alex, Zé Roberto e Paulo) Paschoalini
- Interpretação: Dênis e Zé Roberto
Quando o galo canta o seu refrão,
chama o sol, desperta o meu sertão;
campos são tingidos de dourado,
nesse solo abençoado,
paraíso aqui no chão.
Flores enfeitando o ribeirão,
chuva saciando a plantação;
o choro de um berrante pela estrada,
conduzindo uma boiada,
mais parece uma canção.
(REFRÃO)
Riqueza não é ter um baú cheio de metal;
é provar a água pura e a doçura do canavial.
Riqueza não é ter cada dia sempre mais e mais;
é plantar a liberdade e colher da natureza muita paz.
Ter ar puro para respirar,
uma rede para descansar,
o ranger tristonho da porteira,
passarinhos na paineira
e um cavalo a galopar.
A tarde leva o sol pro horizonte,
a noite vem trazendo o luar;
tudo adormece nesse instante,
a calma toma conta do lugar.
(REFRÃO)
Riqueza não é ter um baú cheio de metal...
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Sentimentos
sitiados
Houve
um tempo, em que a vida se desenrolava basicamente nas regiões campesinas e as
famílias se abrigavam em casas simples, cercadas de terras cultiváveis, de onde
tiravam o seu sustento. Trabalho difícil, de sol a sol, e nos finais de semana
tinham o costume de visitarem com frequência os familiares e amigos, mesmo sem
a comodidade dos automóveis.
Devido
à chamada “revolução industrial”, surgida na Inglaterra no século XVIII, a
maioria migrou para as grandes cidades, trocando a difícil rotina da lavoura pelo
conforto que a vida urbana prometia oferecer. Exemplos disso, o fogão a gás pôs
fim à tarefa de cortar lenha; água encanada, ao invés de puxar balde no poço, e
máquinas de lavar roupas, que evitavam a rotina dessa empreitada à margem de
ribeirões.
Com
o correr do tempo, os grandes centros foram tomados pelo êxodo rural e
tornaram-se inchados de pessoas, que se consideravam cidadãos evoluídos,
enquanto que os moradores de sítios e fazendas passaram a ser vistos como gente
de “segunda classe”, embora os residentes de áreas urbanas ainda hoje dependam
deles para se alimentar.
Há
alguns anos, antes da virada do milênio, era voz corrente que o “rico” do
século XXI seria quem tivesse esses 5 elementos: tempo, silêncio, água limpa,
espaço e ar puro, o que lhe proporcionaria uma qualidade de vida, além de
saúde, é claro. Eu acrescentaria, ainda, mais dois; segurança e paz de espírito.
Muitos
autores brasileiros escreveram obras marcantes, que tratam das diferenças
existentes entres esses dois tipos de vida. Na literatura internacional,
destaque para uma citação do escritor e roteirista Truman Capote: “Para uma
criança, a cidade é um lugar desprovido de alegria”.
Compositores
musicais também se aventuraram em retratar as características desses dois universos,
existentes em muitas partes do Brasil. Na direção oposta das grandes migrações,
as letras mostram certa nostalgia e um desejo de voltar à vida simples da zona
rural:
“Eu quero uma casa no campo,
onde eu possa ficar do tamanho da
paz...”
(“Casa
no campo”, de Zé Rodrix, na voz inesquecível de Elis Regina)
“Eu queria ter na vida, simplesmente,
um lugar de mato verde, pra plantar e
pra colher;
Ter uma casinha branca de varanda,
um quintal e uma janela para ver o sol
nascer.”
(“Casinha
branca”, composição e gravação de Gilson)
“E uma casinha lá onde mora o sol
poente,
pra, finalmente, a gente, simplesmente
ser feliz.”
(“Voa
coração”, autoria e interpretação de Toquinho)
Porém,
as composições alcançam popularmente uma proporção ainda maior se embaladas pelo ritmo
sertanejo raiz, quando revelam uma saudade, que muitas
vezes chega (mesmo) a doer:
“Não
há, o gente, oh, não, luar como esse do sertão...”
(“Luar do sertão”, de Catulo da Paixão
Cearense e João Pernambuco)
“Tô
indo agora pra um lugar todinho meu;
quero
uma rede preguiçosa pra deitar.
Em
minha volta sinfonia de pardais,
cantando
para a majestade o sabiá...”
(“A majestade, o sabiá”, composição de
Roberta Miranda)
“Nunca
vi ninguém viver tão feliz como eu no sertão.
Perto
de uma mata e de um ribeirão, Deus e eu no sertão.”
Casa
simplesinha, rede pra dormir;
de
noite um show no céu, deito pra assistir.
(“Deus e eu no sertão”, de autoria de
Victor Chaves)
Há pouco
mais de 20 anos, a música “Riqueza” foi composta por Alex, Zé Roberto e eu para
expressar a beleza e a necessidade de viver uma vida cercada de simplicidade.
De comum com os consagrados artistas, apenas o fato de sermos amantes da
natureza, essa riqueza que nos cerca e traz muita paz.
TEXTO: Paulo Cesar Paschoalini
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O articulista atua como colaborador deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista do autor, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade.
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