Águas finais da ansiedade

“O momento mais crítico de um malabarista na corda bamba é quando ele já está bem perto do final da corda.”

REVISTA VICEJAR – ATUALIDADE E COMPORTAMENTO 


Todo mundo tem planos na vida. Nossos planos têm o objetivo lógico e óbvio de nos levar a coisas boas. E a possibilidade de viver coisas boas nos traz, é claro, ansiedade.

Quando a gente retoma um plano antigo, o natural é achar que, dessa vez, tudo será mais fácil, prático e rápido. Afinal de contas, o “curso preparatório” já foi concluído, já houve o “test drive”.

Agora você já sabe onde não deve errar, agora você já se sente preparado. O alimento não está mais cru, e você quer colocá-lo no seu prato para finalmente degustá-lo. Se a refeição está no ponto e a sua boca já está salivando, por que diabos você não pode simplesmente (e finalmente) comê-la?

Esse meu questionamento tem sido constante nos últimos tempos porque eu decidi retomar determinados rumos. Mas essa retomada não veio acompanhada de um caminho livre. Haverá todo um passo a passo até eu chegar aonde desejo. E a ideia dessas etapas me causou muita ansiedade e até desânimo.

Foi aí que, conversando com uma amiga a respeito, ela me passou uma analogia que achei muito interessante. Ela me contou sobre o que o caseiro do sítio da família dela lhe ensinou sobre a plantação de melancia.

Segundo o caseiro, mesmo quando a melancia já está redondinha, no seu tamanho ideal e aparentemente pronta, na verdade, ela não está. Ele costuma cobri-la com a sua folha e deixá-la assim por uns 20 dias antes de colhê-la, para que o amadurecimento ocorra de dentro para fora e a polpa se torne mais doce, mais suculenta e vermelha, como deve ser.

E essa amiga me disse que, no meu caso, era muito isso: eu me sentia pronta, preparada, mas, no fundo, não estava ainda, era preciso um tempo extra para acomodar as minhas novas decisões, amadurecê-las melhor e me preparar, de fato, para as batalhas que eventualmente viriam.

A questão toda me fez refletir a respeito dessa ansiedade que o ser humano tem de alcançar rapidamente os seus objetivos, principalmente os de médio e longo prazos. Temos pressa de realizar tudo, só que o tempo do Destino nem sempre é o nosso.

Uma vez, eu ouvi que o momento mais crítico de um malabarista na corda bamba é quando ele já está bem perto do final da corda, porque é quando, por ansiedade de querer atravessar logo o que falta, o malabarista pode se desequilibrar. Se ele se deixar levar pela pressa, toda a parte já atravessada não fará diferença alguma: ele cairá diante de todos, e o espetáculo terminará de maneira frustrante.

É um fato que a vida tem muito disso. Só espero que saibamos controlar a ansiedade, quando, náufragos de muito tempo, já estamos próximos da terra firme. Não queiramos morrer na praia...








 TEXTO: Elaine Regina Vaz 
INSTAGRAM: @elainereginavaz
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A articulista atua como Colaboradora deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista da autora, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade.
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