A guerra de cada um

“Se você quer transformar o mundo, mexa primeiro em seu interior.” (Dalai Lama)

REVISTA VICEJAR – TEXTOS E MENSAGENS


Em tempos de guerra, a maioria de nós retira do fundo do baú de nossa consciência a palavra “paz”. Bastante empoeirada e corroída, ela passa a ser a base de nossos discursos e o estandarte de nossas ações. Mas por que esse sentimento só é lembrado quando atravessamos o extremo oposto? Por que ele não nos é familiar em nossa vida cotidiana, em nosso pequenos atos?

São de enorme importância as manifestações pela paz que ocorrem mundo afora, inclusive no Brasil, em tempos de conflitos armados. Mas é fundamental que desenvolvamos a paz dentro de cada um de nós também. As pequenas batalhas particulares que provocamos, juntas, transformam-se numa pesada guerra individual, causa e reflexo de todas as intolerâncias que provocam as guerras coletivas, direta ou indiretamente.

Fortalecemos o espírito de guerra, apesar de não percebermos, através de nossas atitudes habituais carregadas de egoísmo. Nas palavras do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, “o inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo”.

Atravessamos a fronteira de uma nova era, de um novo milênio, mas ainda insistimos em cometer os mesmos erros primitivos. Nos escondemos sob o pretexto de nossa limitação humana para não nos defrontarmos com a incômoda, porém, essencial e gratificante tarefa de buscar uma evolução interior, espiritual e energética. Tentamos nos isentar da responsabilidade existencial dessa evolução.

Esmagamos a liberdade por razões e motivos escusos; ludibriamos a fraternidade com frases de efeito; e desprezamos a igualdade usando como desculpa as regras da sociedade.

Se almejamos alcançar a paz é preciso, primeiro, que desarmemos nosso espírito, afinal de contas, o paraíso não é um lugar, nem a liberdade é uma situação e nem a felicidade é um sorriso; todos são um estado de espírito. Mas, se você é feliz sempre sorrirá, se você é livre será livre em qualquer situação e, com isso, se sentirá no paraíso em qualquer lugar.

No entanto, agimos de forma contrária. Falamos em paz, mas guerreamos diariamente no trânsito, nos estádios de futebol e em outras “praças de guerra”. Pedimos mais humanismo mas passamos por cima de qualquer um em busca de uma melhor posição na sociedade. Pregamos humildade mas nos incomodamos com mínimas críticas a nós dirigidas como se fossemos perfeitos ou donos da verdade.

Invocamos a tolerância e explodimos de raiva por simples contrariedades que nos são impostas por pessoas ou pelas ocorrências da vida. Lutamos por igualdade de condições mas tratamos as pessoas de maneira desigual, conforme o grau de importância de cada uma em nossas vidas. Clamamos por solidariedade mas doamos apenas nossas sobras e migalhas.

É preciso buscar a consciência de nossa essência divina para darmos não o resto do que pensamos ter, mas a fonte do que realmente temos e somos.

A paz não nascerá de um interesse individual ou coletivo; nascerá, sim, da vontade consciente do ser humano de cultivá-la a cada segundo. E só a alcançaremos se resgatarmos do âmago de cada um de nós o sentido e o sentimento da palavra PAZ. Para isso será preciso adquirir a consciência de nosso papel na existência a fim de deixarmos de viver sob a égide do medo e da incerteza

Definitivamente, só teremos paz se estivermos em paz e conscientes. Do contrário, serão só retóricas e atos inférteis.








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