“A negatividade nem precisa de terra muito fértil; clima bom ou clima ruim, ela já brota.”
REVISTA VICEJAR – ATUALIDADE E COMPORTAMENTO
Ainda fazendo uma análise sobre os indivíduos, eu duvido muito que ninguém nunca tenha se deparado com um genuíno Homo tormentum cronicus. Eles são incrivelmente numerosos (é certo que muito dificilmente entrarão algum dia em extinção). Porque o alimento deles é muito mais fácil de ser encontrado e cultivado: a negatividade nem precisa de terra muito fértil; clima bom ou clima ruim, ela já brota.
O tormentum não é predador do pacificum (nenhum deles possui predadores), mas ele age como se fosse. É agressivo e gosta de atacar os outros grupos, seja por puro prazer ou por hábito. Seus momentos preferidos de ataque acontecem quando os outros indivíduos estão muito quietos, concentrados em realizar as suas tarefas, ou demonstrando felicidade excessiva.
A forma de ataque é também fácil de ser observada: sempre se apresentam falando do quanto aquele trabalho é ruim, do quanto o seu chefe paga mal, de como o trânsito estava engarrafado na ida para casa na noite anterior, do modo como seu esposo (ou esposa) anda insuportável, do quanto seus filhos são terríveis, preguiçosos ou bagunceiros, do quanto está cansado (ou cansada) daquele emprego, do modo como aquele cliente atendido por último foi mal-educado. Enfim, do modo como todos ao seu redor não prestam, como nada presta, como a vida não presta.
Apresentam grau de criticismo extremo e seletivo, sabem ser insuportáveis, mal-educados e insistentes. Sentem prazer real em atormentar os outros (daí o seu nome), em roubar a paz alheia, e são tão habituados a isso que essa atitude já lhe soa como perfeitamente racional e natural. Do ponto de vista de um tormentum, qualquer outro indivíduo é visto como o receptáculo perfeito de todas as suas reclamações, queixas, frustrações e críticas. O outro é um depósito de lixo mental e emocional. Ponto.
Portanto, leitor, se você se encaixa nesse grupo, sugiro que reveja o mais rápido possível suas atitudes e passe a respeitar as pessoas à sua volta. Ninguém – repito, ninguém – tem obrigação de ouvir todo santo dia, o tempo todo, as suas queixas. Aprenda que leveza e bom-humor são ingredientes essenciais na vida, que todo ser humano sofre, você não é o único.
Agora, meu nobre leitor, se você é um pacificum como eu, prepare-se, sua vida não será nada fácil. A sua espécie tenderá a ser nômade, sempre buscará a savana perfeita, repleta dos seus iguais. Mas um atormentador sempre pode aparecer quando menos se espera, pronto para atacar. Nesse caso, se não puder se mudar para longe, suporte, nenhuma provação é para sempre.
Mas, se puder se mudar, não se faça de rogado, reúna seus suprimentos, sua paz, sua coragem, e corra. Siga o título daquele filme antigo: “Corra que a polícia vem aí”. Só que, nesse caso, não há polícia. Há só um companheiro de selva que ainda não aprendeu que a vida, apesar de tudo, “é bonita, é bonita e é bonita”...
TEXTO: Elaine Regina Vaz
INSTAGRAM: @elainereginavaz
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