O coelho na cartola da Gratidão

“E eis que a Gratidão pega sua imensa cartola. Nossa, com um tamanho bem maior do que o normal, uma cartola gigante!”

REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )


Respeitável público, hoje estamos aqui reunidos para mais um espetáculo no circo da vida. Na arquibancada, bilhões de seres humanos, muitos deles perdidos em relação a si mesmos, e tantos outros mergulhados na busca incessante e confusa pela própria felicidade.

Dia e noite, vemos os mesmos espetáculos se repetindo. São vários e constantes os números de ilusionismos, nos quais as nossas esperanças e os nossos sonhos mais íntimos desaparecem bem diante dos nossos olhos.

Os leões — que têm vários nomes, uns chamam de medos, outros de inseguranças — permanecem em suas jaulas. Poucos são os que se arriscam a participar das apresentações que os envolvem. Mas... surpresa! Aqueles que se propõem a isso têm resultados surpreendentes.

A corda bamba das certezas permanece bamba quase sempre… Mas todos nós nos tornamos malabaristas uma hora ou outra. E, apesar das oscilações, no final da corda geralmente encontramos o chão firme que tanto procurávamos.

No circo da vida, tem de tudo: situações que cospem fogo, palhaços que disfarçam uma tristeza imensa e mágicas muito interessantes que, na verdade, são mais simples do que parecem. E é uma dessas mágicas que venho lhes apresentar humildemente no dia de hoje. Vejam, lá vem a nobre senhora para apresentar o seu tão misterioso número. Seu nome é Gratidão.

E eis que a Gratidão pega sua imensa cartola. Nossa, com um tamanho bem maior do que o normal, uma cartola gigante! Nela, ela vai enfiando todo tipo de coisa inusitada: reclamações, queixas, julgamentos, críticas, mágoas, mau humor, brigas, desentendimentos, imprevistos. É muita tralha, senhoras e senhores, é impressionante o número de coisas que a Gratidão vai enfiando habilmente na sua gigante cartola.

Agora ela diz uma palavra misteriosa e... voilà! E o que será que eu vejo agora saindo da cartola? (Óóóóó!, a multidão reage.) Saiu uma PESSOA da cartola! (Aplausos. Muitos aplausos.) Vamos falar com a senhora Gratidão para que ela nos explique melhor o seu número:

“Olá a todos… Bem, aquele homem é o mesmo que tinha me fornecido tudo que enfiei na minha cartola mágica. No momento em que ele entrega a mim todas aquelas coisas, eu tiro delas somente aquilo que lhe serve de algum modo, e também tudo aquilo que é bonito e importante, e ele ainda não tinha se dado conta. Então, depois, é ele próprio que sai da cartola, só que diferente de quem ele era antes. Ele sai renovado, bem-disposto, enxergando melhor o verdadeiro valor das pequenas maravilhas que ocorrem todos os dias de sua vida”

Não é incrível, senhoras e senhores?! (“Siiim!”, a multidão vai ao delírio.) Esperem, a senhora Gratidão quer dizer mais algumas palavras:

“Na verdade, essa é uma mágica mais simples do que vocês pensam. Sugiro que vocês peguem um caderno — sim, um simples caderno — e todos os dias de manhã escrevam nele pelo menos três coisas que ocorreram no dia anterior pelas quais foram verdadeiramente gratos. Coloquem essa meta de agradecer todo santo dia por pelo menos três coisas boas de suas vidas. E esperem a mágica acontecer. Porque ela acontece”.

Bom, agora que a senhora Gratidão está se retirando, eu tenho que admitir uma coisa a vocês da plateia: eu já sabia do truque. (Óóóóó, a plateia reage, perplexa.) Sim, senhoras e senhores, eu já sabia da mágica. A Gratidão e eu nos tornamos íntimas há pouco tempo, e, como eu vi a grande mudança que o seu diário realizou na minha vida, eu quis que todos vocês também pudessem ter acesso a esse hábito tão saudável, tão simples, mas tão transformador. E, com isso, eu me despeço de todos vocês.

(Apresentadora/cronista que estava saindo, volta correndo após a cortina quase se fechar.)

E, ah, sobre a palavra dita pela Gratidão durante o seu número... todos vocês já sabem a resposta:

Obrigada.








 TEXTO: Elaine Regina Vaz 
INSTAGRAM: @elainereginavaz
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A articulista atua como Colaboradora deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista da autora, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade.
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