“A natureza se renova e sendo assim, por que nós não podemos seguir seu exemplo?”
REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )
O quarto está quase limpo. Chão encerado, sapatos em seus devidos lugares. Na cama, o lençol bem esticado e alinhado. As janelas abertas com as cortinas afastadas apresentam a suavidade de uma tarde ensolarada, repleta de nuvens brancas e avantajadas. Calmamente, o vento assopra as folhas das mangueiras vizinhas. Para qual lugar elas seguirão?
Na passividade do dia, abro meu guarda-roupa. Encontro penduradas em cabides, algumas blusas, calças e bermudas. Peças desbotadas pelo tempo, que já não importam mais para meu corpo. Estão frouxas, largas, cheias de folgas na silhueta ou quando não, nos ombros.
Roupas são momentâneas em nossas vidas. Emagrecemos, engordamos, diminuímos, crescemos. Em algum momento, elas não nos servirão como antes. Serão vistas apenas, como um pedaço de pano qualquer.
Das circunstâncias que vivenciamos dia após dia. Retirar roupas velhas do armário se faz necessário. Assim como deixar de mão, certas lembranças, que nos remetem aos nossos erros e medos.
Mudar nossas vestimentas é tão relevante, quanto mudar nossas atitudes. Usamos o mesmo par de sapatos, como ainda utilizamos nosso coração, para ser escravo de lugares e recordações, que nos magoam ferinamente.
A natureza se renova e sendo assim, por que nós não podemos seguir seu exemplo? A cada ano que vivemos, sentimos e respiramos. É uma chance cedida para vestirmos modelos de esperança, força e perseverança. Apesar dos tropeços inevitáveis, ninguém está imune à queda. Por isso, ame, chore, viva, jogue-se, leia, cante, mude, inove...
Na passarela da vida, o válido é desfilar de cabeça erguida e nunca descer do salto. Afinal, roupas novas, cheirosas e confortáveis nos deixam mais elegantes. Notáveis e confiantes em nós mesmos.
O quarto, agora está limpo. Da janela, observo o vento sacolejando os galhos das mangueiras e o varal, com minhas roupas úmidas oferecidas para o Sol.
O quarto, agora está limpo. Da janela, observo o vento sacolejando os galhos das mangueiras e o varal, com minhas roupas úmidas oferecidas para o Sol.
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