Desapego

“Tudo na vida é  uma partida e uma chegada a um lado qualquer, ou determinado objetivo...”

REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )


Quando em crianças temos sempre um boneco favorito que mesmo que lhe falte um braço ou uma perna, o amamos com tal intensidade que é nos impossível viver sem a companhia daquele ser inanimado, que pra nós, tem vida própria.

Tal é a personalidade como a  recíproca  do amor sentido, sem falar na manta que arrastamos pelo chão empoeirado, como vestimenta de nobres reis.

É um apego e zelo, que jurar pela eternidade de sentimentos e emoções atravessaria destemidamente para o outro lado, agarrado ao boneco sem braços e a longa e majestosa manta (apego). Tudo na vida é uma partida e uma chegada a um lado qualquer, ou determinado objetivo... tudo envolve um desapego por mais apegado que sejamos.

Dizer à senhora da repartição pública que a partir de hoje não vives naquele endereço e mudou de código postal, não quer dizer que desapegou de todos os momentos que ali vivera, ao lado daqueles que dividiam a mesma rua, a mesma risada de sempre.

O melhor amigo irá ficar para trás, mas assim como a manta, leva consigo o cheiro das tardes de prosa nas calçadas, as longas espera na esquina em frente à gelataria, partimos mas não se desapega do que fica cá dentro.

Desapegar é não carregar grandes bagagens do que não fora para ser, é saber que maus momentos é prisão daqueles que se deixa encarcerar. Seguir é ir leve, com os retalhos de memórias de histórias que poucos conhecem, é levar metade do segredo bobo para ter um sonho a que se recordar. Desapegar é saber que pessoas mudam destinos, e sem destinos e pessoas não se muda a vida nem a si mesmo.

É saber que a cada passo que se faz à estrada, passos ficam pra trás, logo, pegadas no chão poeiras ao vento (desapego). O doce sabor de viver é apegar-se aos sonhos que pulsam e nos impulsionam para frente, é desapegar do medo, bagagem pesada demais pra quem é  de alma leve.

A vida se faz a favor de quem se apega ao amor universal, e a quem se desapega das futilidades vãs, a quem constrói castelos com as pedras que lhes  foram atiradas, e a quem faz uma prece a quem as atirou.

Desapegar é adentrar um novo caminho, e ir ao longo desse trajeto apegando-se a forma mais sensata e humana de saber ser alguém que, não só mudou de código postal mas levou consigo o cheiro suave das doces lembranças...

A lembrança de acreditar que um simples boneco sem braços é a melhor companhia e seu real tesouro, é sentir-se bem vestido com uma simples manta empoeirada da poeira do chão... o mesmo chão que te leva ao caminho dos teus sonhos.








 TEXTO: Flaviane Borges  
FACEBOOK: Depois-daqueles-dias 
Flaviane Borges Gomes, nascida aos 25 de setembro de 1981, em Dom Cavati, interior de Minas Gerais. Completou seus estudos na Escola Estadual Profa. Ilma de Lana Emerik Caldeira, em 1999. Despertou gosto pela escrita desde muito cedo, embora tenha um vasto material escrito, dentre poesias, frases filosóficas, textos e afins, o que fez por amor à escrita em seus momentos sós. Participou da Antologia "Arte em Poesia", pela Editora Sol. É autora da "Página depois daqueles dias", que leva o nome do seu primeiro livro a ser publicado em breve. Hoje luso-brasileira, reside em Portugal, onde continua sua jornada no mundo da escrita.
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A articulista atua como Colaboradora deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista da autora, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade.

Comentários

  1. Muito linda, simplesmente Amei... parabéns flaviane sempre escrevendo seus textos cm alma ....

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