“A cada dia somos sensibilizados com as delimitações que o corpo, paulatinamente se torna refém.”
REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica)
Sim, eles chegaram! Eis que surgem em nossas vidas sem pedir qualquer tipo de licença. Teimosos, disfarçá-los torna-se uma árdua tarefa. Existem algumas pessoas que naturalmente conseguem aceitá-los, no entanto, no meu caso, há um nítido jogo de amor e ódio.
Não me recordo com precisão, quando foi exatamente que eles apareceram. A única certeza que me cabe é consentir a existência deles. E por mais que eu tente, sei bem, estarão todos lá – livres, leves e soltos.
Homens e mulheres, ninguém pode detê-los. A força reside e vive neles, são intrusos qualificados em persistência.
Timidamente, apresentam-se entre as mechas escuras da minha cabeleira, para assim, reluzirem nas têmporas. Cabelos grisalhos são os fios do tempo que se sobressaem em nós, aceite isso, leitor!
De algum modo, na vaidade feminina que me sustenta, ainda me vejo na tentativa frustrada de pinçá-los ou tingi-los. Retoco-os todos os meses com legítima fidelidade e pontualidade, entretanto, os cabelos brancos sempre me vencem.
É interessante ver a divindade do tempo se materializando em nós. A fonte da juventude só existe mesmo nos desenhos animados. E o pincelar da vida não será eternamente contornado em cores vivas e vibrantes.
Nascemos, crescemos, vivemos. A cada dia somos sensibilizados com as delimitações que o corpo, paulatinamente se torna refém. E esses famosos cabelos brancos, de certa forma, desmancham em nós, a certeza da nossa brevidade.
Olho-me diante do espelho, penteio meus cabelos, na tentativa de esconder os tons esbranquiçados. Ação que executo sem sucesso, fiapos de cor neve reaparecem. Alvos, eles despontam, sinalizam que o viver corre sempre ao sabor da natureza.
Num instante, sorrio, vejo meu olhar pesado e a face perdida exibirem sem censura, os traços dos anos, nos ângulos do meu rosto esquálido.
Num instante, sorrio, vejo meu olhar pesado e a face perdida exibirem sem censura, os traços dos anos, nos ângulos do meu rosto esquálido.
TEXTO: Mayanna Velame
INSTAGRAM: @portugues_amoroso
Mayanna Velame nasceu em Manaus, em 1983. É graduada em Letras - Língua Portuguesa, pela Universidade Federal do Amazonas. É autora do livro "Português Amoroso" (Editora Madrepérola/Maio de 2020). Escreve periodicamente contos, crônicas e poesias para os sites: "Revista Vicejar", "Revista Conexão Literatura", "Texto Garagem" e "Corvo Literário".
_______________________________________________
Comentários
Postar um comentário