“A natureza a todo instante dá-nos sinais, buscando uma comunicação com nosso desenfreado barulho...”
REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )
_____O dia estava lindo naquela aldeia em terras de Espanha, o sol bronzeava as faces pouco rosada, finos traços que deixou a primavera.
_____O barulho do rio ousava penetrar o silêncio dos casais deitados confortavelmente no gramado esverdeado, quem dirá o silêncio de um beijo selado e imortalizado naquele lindo cenário. Sentei-me à beira do rio com os pés mergulhados naquela água térmica, deixando me banhar pelo sol, e ausentando de mim mesma, só me permitia ouvir a natureza.
_____As crianças se debatiam dentro d'água, outras corriam e gritavam, mas era como gestos e ações isoladas... Exceção de uma delas que alegremente, se deixava levar pelo balançar de um velho baloiço, que conforme ia e vinha o ferro fazia fricção um no outro emitindo um som como o cantar de um pássaro.
_____Logo em seguida um pássaro pousado ao alto de uma árvore começou a responder a esse som de forma igual... seguindo assim um cantarolar de algo inanimado misturada a alegria daquele bichinho.
_____A natureza a todo instante dá-nos sinais, buscando uma comunicação com nosso desenfreado barulho, imitando os sons de nossos apressados passos a fim de nos convidar a cantarolar uma canção, respirar seu ar puro, molhar os pés nas fontes, banhar-nos ao sol do meio-dia e permitir que o vento beije nossa rosada face.
_____Aquele pequeno ser, se permitiu entrar em nosso mundo “inanimado” e aconchegou do chiar daquele velho baloiço. E nós, seres tão “grandes” por vezes infindas, não temos essa sensibilidade, porque buscamos sempre uma razão para justificar o que vemos, ouvimos e sentimos, temos a necessidade de que tudo deve ser concreto, palpável e credível com selo registrado.
_____Não nos permitimos adentrar o universo em nossa volta e transformarmos a inquietude em essência da qual nós mesmos fazemos parte.
_____Somos vazios cheios de nadas, somos um peso carnal desprovidos de medidas, somos a alma frente ao desconhecido, olhos que não veem, mãos que não tocam e não sentem, coração que não ouve senão seu próprio bater. Somos tanto que esquecemos, que quem mais se doa é quem mais recebe, ao nos doarmos emprestamos ao Criador.
_____Ao permitir ouvir o outro, passamos a fazer parte de uma mesma melodia e essa canção tem poder de transformar tristeza em alegria, inquietude em momentos de paz, tem poder de fazer com que olhemos o mundo com os olhos do outro, e quem sabe até ouvir as batidas de seu coração.
_____Imitar os sons da natureza, aprender com os animais, sorrir como uma criança, olhar para o rio e perceber que o que ficou pra trás não volta mais, que viver é seguir o seu curso, num silêncio profundo, sem discutir com o obstáculo, mas proporcionar a quem adentra sua profundidade uma experiência única.
_____Viver é isso... saber que tudo que está a nossa volta, tem poder para nos moldar, ensinando-nos que não somos confrontados e sim desafiados, até mesmo por algo inanimado, a sermos cada vez melhores, cada vez mais humanos, porque não há nada mais encantador que viver, mas até disto nos temos esquecido.
_____Mas vale ressaltar que, os pássaros ainda cantam!
Belíssimo, nobre e querida poetisa!!! Muito sensível ao instante! Isso é viver!
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