“... Pois ficou guardado na lembrança de um código postal, numa rua sem saída, num beco de nome esperança.”
REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )
_____Busquei nas lembranças alguns endereços, código postal, número de telefone fixo. Uma rua com nome de santo, ou quem sabe um escritor, poeta, que tem seus nomes nas placas na entrada de cada rua.
_____Era normal e habitual sabermos estes tipos de coisas de cabeça, nem de perto uma voz calma e irritante e uma seta em azul diria tal endereço. Pedindo que virássemos na primeira saída à direita. Não que não fosse de boa ajuda, mas faz bem pensarmos por nós mesmos de vez em quando.
_____Era amoroso e de importante responsabilidade termos em mente a direcção, da casa dos avós, amigos, professores e se possível do padre da freguesia.
_____Tem gente que adora o cheiro do livro. Quem não se delicia com esse cheiro peculiar que tem os livros? O barulho ao virar da página, guardá-lo na estante ao lado do retrato da primeira classe.
_____As cartas tinham o mesmo cheiro que tem os livros, a caligrafia trazendo notícias de longe, o selo dos correios, o envelope adornado de cores, e o aperto no coração quando de longe avistava-se o carteiro.
_____As notícias hoje chegam num vibrar e num toque, mas nada se compara à emoção e entusiasmo em ter nas mãos uma carta. Abri-la e sentir cada palavra, com toda a intensidade e fervor com que foi escrita. Dando notícias do tempo, da saudade que trazem os momentos, dos dias contados nos dedos e a ansiedade de uma resposta. Quantos de nós trazem essas ricas memórias largadas no tempo, e a saudade de sentir uma única vez o doce sabor do momento?
_____Quem sabe por uma só vez esquecer o endereço de e-mail e lembrar da rua com nome de santo e do código postal de um lugar que um dia foi nosso. Tirar um tempinho e escrever a punho palavras de coração aberto. Sim, porque a escrita a punho tem muito o que falar, são desenhos de nossa mais profunda emoção.
_____Se te faz longe tal memória, abra mais uma vez o baú, já a tanto esquecido, leia todas as cartas sinta o cheiro doce de tais lembranças. Há de haver um amigo do qual o e-mail não conhecemos, pois ficou guardado na lembrança de um código postal, numa rua sem saída, num beco de nome esperança.
_____Há sempre lembranças dentro de nosso próprio tempo, na agitação da tecnologia, ou no barulho da mente numa madrugada. Basta a nós, trazer à vida um pouco desse maravilhoso tempo, que vai ficando cada vez mais esquecido, distante. Mas que fazia tanto sentido quando vivido.
_____É com enorme saudade que pego nesta caneta para lhe escrever estas poucas linhas. Espero que se encontre feliz e gozando de boa saúde. Aqui tem chovido bastante, faz muito frio também. Acabei de ler o livro que me indicaste confesso que adorei. Obrigada!
_____Sinto muitas saudades tuas, das conversas no banquinho da praça, faz um calor bom aí, e o sorvete é delicioso.
_____Estou pensando escrever um livro, com aquelas poesias do tempo da escola, escrevi outras tantas ao longo desse tempo imenso que se passou, penso que vais gostar. Tenho muitas coisas para lhe contar, mas irei escrevendo em outras cartas, assim, não me perco e sempre vou dando notícias.
_____Aguardo ansiosamente notícias tuas.
_____Com carinho de sua sempre amiga... Flaviane!
_____ “Recordar é viver.
_____Escrever é reviver.
_____Então?
_____– Qual é mesmo o código postal?”
Que coisa delicada e linda!
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