“O tempo passa tão depressa quanto a paisagem,
_____O ano era 1994 e, devido a um compromisso, precisei ir para a cidade de São Paulo quatro vezes, durante o período de aproximadamente dois meses. Numa dessas oportunidades, eu peguei o metrô num horário de pouco movimento, quando tive o “luxo” de permanecer sentado durante o trajeto, o que me permitiu observar com mais atenção o “sobe e desce” de passageiros.
_____Apesar de não saber sobre a realidade de cada um, era possível, no entanto, fazer uma leitura do semblante de alguns passageiros, podendo imaginar uma eventual rotina de acordo com alguns gestos e, principalmente, no que diziam seus os olhares.
_____Dessa maneira, quando voltei para casa, rascunhei num pedaço de papel as características da leitura que fiz de cada um daqueles personagens da vida real, fazendo um exercício de imaginação acerca dos sonhos e dissabores contidos ali naquele vagão. A ideia era escrever um poema ou uma crônica, mas naquele momento não consegui desenvolver nem uma coisa, nem outra.
_____Cerca de dois ou três anos depois, estávamos envolvidos com nossas composições e surgiu a ideia de fazermos uma música que falasse da rotina a que todos nós estamos submetidos. Imediatamente eu me lembrei do rascunho que havia feito sobre as cenas do metrô. Com a ajuda do Alex e baseada na melodia que ele e o Zé Roberto tinham criado, a letra foi escrita de acordo com a métrica e o andamento.
_____Para dar mais personalidade, o Zé Roberto fez esse arranjo maravilhoso (todo ele), com destaque para as intervenções de guitarra na abertura da música e no solo, em especial, quando um toque crescente e frenético dá o tom da correria do cotidiano, numa alusão ao que acontece nas grandes metrópoles. Não bastasse isso, ele ainda colocou a sua voz marcante na bela interpretação. A gravação do áudio foi feita em home studio.
_____Desse modo, “Fragmentos” não é uma música que poderia ser considerada “comercial” (que a gente ouve e sai cantando), mas que convida a refletir sobre uma realidade movida por interesses comerciais, em que tudo tem um preço e onde os valores estão cada vez mais escassos.
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