O senhor e o livro

“Palavras atiçam, causam curiosidade, até mesmo para quem já aprendeu todas as lições da vida.”

REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônicas )


                                                  

(Para Tibas)

_____Estava a vagar meus pensamentos, não havia muito o que escrever ou rascunhar. As palavras estavam ausentes e dispersas, embora meu coração permanecesse aceso. Tamborilando meus dedos curtos sobre a mesa de madeira, senti o celular estremecer. Era o anúncio de uma mensagem recebida. 

_____Tomei o aparelho, sem muita disposição, deslizei o polegar em sua tela, até ver que ali, abria-se a fotografia de um idoso. De corpo franzino, suíças e cabelos alvos, seu sorriso gracioso sinalizava uma atmosfera de extrema euforia.  

_____Em mãos, o velhinho segurava um livro de poemas, cuja capa era de uma tonalidade verde com tons de azul suave. Fiquei a saber que o idoso folheava o livro, como se estivesse recebido pela primeira vez, uma correspondência de amor.  

_____Mesmo com as retinas já cansadas e com o olhar anuviado, o ancião não se inibia a trilhar, as veredas das letras e os mistérios da poesia. Palavras atiçam, causam curiosidade, até mesmo para quem já aprendeu todas as lições da vida. Ler o mundo é a melhor alfabetização existente.  

_____Talvez, esse velhinho nunca tenha lido nada a respeito sobre as teorias literárias, as concepções filosóficas de Aristóteles e o fundamento do herói trágico. Até porque, no final, sua satisfação estava em tocar naquele objeto, ler com seus dedos, reconhecer a espessura das páginas, dedilhar como se estivesse a percorrer um corpo desconhecido. O olhar diante das coisas do mundo é verso para qualquer poeta.  

_____No fim de 2014, se minha memória está certa, iniciei a escrita de um livro sem muitas pretensões. Um livro de poemas em homenagem à Língua Portuguesa. Meu sonho ousado e perspicaz era apenas um: que ele pudesse chegar a todos, independentemente da classe social e do grau de instrução. De certo modo, essa cronista que escreve em linhas tortas, sente-se feliz. Ao ver seu livro de poesia, nas mãos daquela relíquia humana.  

_____Português Amoroso XI

_____Não procuro uma vida.

_____Quero a vida,

_____Onde há vida.


 TEXTO: Mayanna Velame 
INSTAGRAM: @portugues_amoroso 
Mayanna Velame nasceu em Manaus, em 1983. É graduada em Letras - Língua Portuguesa, pela Universidade Federal do Amazonas. É autora do livro "Português Amoroso" (Editora Madrepérola/Maio de 2020). Escreve periodicamente contos, crônicas e poesias para os sites: "Revista Vicejar", "Revista Conexão Literatura", "Texto Garagem" e "Corvo Literário".
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A articulista atua como Colaboradora deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista da autora, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade.

             
                       

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