A fantasia que nos faz felizes

“E contamos os feitos em páginas de livros, desenhamos nosso próprio caminho... com mais flores que espinhos” 

REVISTA VICEJAR – ARTIGOS E OPINIÕES 


_____Quem nunca sentiu medo do saci-pererê, da Cuca, do homem do saco, das estórias de assombrações contada nas madrugadas, numa roda de amigos, onde os avós e os tios encenavam com tal realidade, que era quase impossível dormir nestas noites.  

_____Mas o medo atraía tais personagens e ainda que nos fizéssemos de fortes e bradasse por instantes um espírito heroico. Era necessário uma dose e meia de coragem para ir até a cozinha buscar um copo com água.  

_____Interessante como a adrenalina de sentir o medo gotejar em suores frios, revigorava a tão sonhada idade adulta. Como se fôssemos crescer por suportar uma noite em meio aos horrores e lendas de personagens bizarros e assustadores.  

_____A criança que fomos, ou aquela pequena luz que ainda ilumina nossa escuridão adulta, quando assim a permitimos, era parte da fantasia que nos fez felizes um dia.  

_____Uma fantasia irreal, que transformava a realidade nossa de cada dia. Diferente da brutalidade em deixar de acreditar, que é possível construir bons sentimentos e bons atos heróicos, sem medo das assombrações que assombram o tempo presente.  

_____Saber que a insônia, causada pelas frustrações sociais, pode muito bem ser desafiada pelas lendas folclóricas e seus enigmáticos personagens. É deixar nos levar pelas fantasias repousadas na memória da criança que fomos, que ainda deve correr por aí nos bosques da vida. A fantasia que nos faz felizes, é aquela que imaginamos quando vamos de viagem num comboio...  

_____Em que a paisagem presa na janela, nos arremessa lá fora. E lá sonhamos uma vida inteira, somos tudo quanto desejamos, sorrimos como crianças num parque de diversões, somos adultos seguros e resilientes, tornamos heróis de nossa própria história. E contamos os feitos em páginas de livros, desenhamos nosso próprio caminho... com mais flores que espinhos, bem mais colorido que o próprio arco-íris, pois pintamos com todas as cores do universo.  

_____Mas, ainda assim, nos faltar um pouco de irrealidade nessa nossa brutal e cinzenta realidade. Há sempre uma casa de fantasias para nos elucidar a voltar no tempo. Um lugar criado para ser eterno e eternizar todas as maravilhas da vida, um lugar onde mora uma criança que ainda não descobriu o mundo do ser adulto.  

_____A  pequena casa dentro de cada um de nós... a pequena criança que teme o saci-pererê, a Cuca, o homem do saco e as assombrações. Porque ainda vive feliz em suas fantasias, e não descobriu que crescer, por vezes é se perder do que fomos um dia. 









 TEXTO: Flaviane Borges  
FACEBOOK: Depois-daqueles-dias 
Flaviane Borges Gomes, nascida aos 25 de setembro de 1981, em Dom Cavati, interior de Minas Gerais. Completou seus estudos na Escola Estadual Profa. Ilma de Lana Emerik Caldeira, em 1999. Despertou gosto pela escrita desde muito cedo, embora tenha um vasto material escrito, dentre poesias, frases filosóficas, textos e afins, o que fez por amor à escrita em seus momentos sós. Participou da Antologia "Arte em Poesia", pela Editora Sol. É autora da "Página depois daqueles dias", que leva o nome do seu primeiro livro a ser publicado em breve. Hoje luso-brasileira, reside em Portugal, onde continua sua jornada no mundo da escrita.
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