“O som da certeza já não cabia na palavra futuro e entre os braços dos homens ergueu-se um imenso muro.”
REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Conto )
_____Era uma vez um homem com um grande coração.
_____Tão grande, diziam, que de tão grande que era não lhe cabia na boca.
_____Pois certamente que não, porque lugar de coração é num peito gigante, tão gigante como o meu, respondia Fabião, o homem com um grande coração.
_____Era uma vez uma mulher pequenina e graciosa.
_____De uma doçura tal que, diziam, parecia comer mel.
_____Mel não comia, afiançava com um sorriso feliz de orelha a orelha. Era apenas a doçura da alma que a tornava graciosa. Assim como o néctar de uma flor, gracejava ela, a Mimosa.
_____Um dia, o Fabião, o homem com um grande coração conheceu a pequena Mimosa, a mulher que era doce e graciosa.
_____Outra coisa não seria de esperar que entre este homem tão grande e esta pequenina mulher crescesse um amor com aquela doçura de uma união, que só cabe a quem é doce e tem um enorme coração.
_____Diziam eles que os afetos não se fazem de idades nem de vontades.
_____A união é composta por laços com abraços que só escutam a Música do Coração.
_____Cada nota desta melodia é escrita com amor na pauta da vida e o resultado final será a mais bela composição.
_____A Mimosa e o Fabião garantiam não serem necessárias muitas notas.
_____Basta que a música de cada um seja tocada nos compassos certos e os braços para oferecer e receber amor tenham a magia de estar sempre abertos.
_____Foi talvez por isso, por serem tão diferentes mas tão perfeitos que, ao tocarem o coração um do outro, a vida lhes concedeu a sua mais bela sinfonia, a pequenina estrela Lia.
_____E deste modo, ao compasso daquela Música do Coração foi acrescentado um ritmo mais profundo.
_____Para o Fabião, a Mimosa e a Lia, agora nascia a mais bela canção do mundo.
_____Mas houve, então, um dia que encheu de cinzentas nuvens o céu da primavera e os sorrisos dos homens se calaram na terra.
_____Do ar desapareceu a leveza da aragem, havia lágrimas nos rostos e os silêncios gritavam a Canção da Coragem.
_____Andava à solta uma estranha criatura que ninguém sabia de onde viera e todos tinham que fazer mudanças, velhinhos e crianças, porque o mundo adoecera.
_____O som da certeza já não cabia na palavra futuro e entre os braços dos homens ergueu-se um imenso muro.
_____Começou a Lia a aprender as contas e as letras com diferentes cores de outras paletas, uma nova simetria. E com a saudade pousada no regaço, tal como ela, os meninos reinventaram a beleza do sorriso que morava dentro de um abraço.
_____O pai Fabião, dono de um enorme coração, deu novos rumos aos desafios da sua lição e passou a ensinar, com outras formas de contar, a sua geometria de encantar.
_____A mãe Mimosa, pequena e graciosa, antigos traços redescobriu. Com outros lápis de carvão os coloriu. Assim registava as sombras da doçura dos corações que mais amava.
_____E a vida passou a ser um novo desafio, ora lenta ora rápida, como as águas que correm pelas sinuosas margens de um rio.
_____Foi nesses dias de inusitadas tormentas que a pequenina estrela aprendeu a mais rara e valiosa lição da vida dela.
_____Se nas dores do caminho remar sempre de mãos dadas com a mãe Mimosa e o pai Fabião, são precisas apenas duas notas musicais para que o sol se vire do avesso e, bem aconchegadinho, vá morar lá dentro do peito, nesse cantinho com aroma de buganvília e chá de tília, que é o sítio mais lindo desta família.
_____Com estas notas tocadas ao som da cor do amor, o Fa mais Mi será sempre igual a Lia.
_____É este o segredo da Música do Coração capaz de tornar o mais rigoroso inverno num suave e eterno verão.
_____inspirado nos momentos do Co(nto) da Vi(da) D(e) uma família feliz...
TEXTO: Paula Freire
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Natural de Lourenço Marques, Moçambique, reside atualmente em Vila Nova de Gaia, Portugal. Com formação académica em Psicologia e especialização em Psicoterapia, dedicou vários anos do seu percurso profissional à formação de adultos, nas áreas das Relações Humanas e do Auto-Conhecimento, bem como à prática de clínica privada. Desde muito cedo desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita, tendo colaborado regularmente com publicações em meios de comunicação da imprensa local. O desenho foi sempre outra das suas paixões, sendo autora das imagens de capa de duas obras poéticas lançadas pela Editora Imagem e Publicações em 2021. Há alguns anos, descobriu-se no seu ‘amor’ pela arte da fotografia onde aprecia retratar, em particular, a beleza feminina e a dimensão artística dos elementos da natureza.
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A articulista atua como Colaboradora deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista da autora, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade.
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