“As emoções me levam a lugares sombrios e me trazem de volta a lugares verdejantes.”
REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )
_____Há sempre uma esperança, um milagre, um poema e um amigo junto ao Tejo...
_____Há muito que se diga sobre as crónicas que escrevo. Palavras emaranhadas junto a sentimentos resguardados. Pequenos momentos vividos e jamais esquecidos, porém eternizados, não só em mim, mas em vós também.
_____Uma crónica não é algo que se esconde, nem menos intensa e importante que um texto filosófico (amo a filosofia e seus maravilhosos enrendos contemporâneos). Mas, além de muito pensar, a crónica nos leva a viver algo que nos transporta diretamente para o papel, pelo arranhar da caneta, pelo reluzir da tinta, pelo pesar do coração, pela nudez da alma.
_____A “inspiração” nem sempre é companhia elegante sentada à mesa, a saborear um cálice de vinho; E bem digo, poderia ouvi-la por horas infindas, seduzi-la e deixar-me seduzir por ela. Mas nem sempre a inspiração dá o ar de sua graça. Embora ela tenha uma graça confiante e finos traços, derradeiramente é a que nos trai e nos encanta com uma única palavra inspira(ação).
_____Tenho sempre as emoções à flor da pele, um sentido apurado para todas elas. As emoções me levam a lugares sombrios e me trazem de volta a lugares verdejantes.
_____Mas nada me confunde tanto quanto sentar-me à beira do Tejo... Sento-me de costas para o “Terreiro do Paço”, o sol brilha intensamente neste verão, a beleza desse espaço reluz aos holofotes de máquinas fotográficas e câmeras de telemóveis.
_____Mas quem é que se ausenta de si mesmo para viver este lugar? Quem se atreve a dar ao Tejo um minuto de sua alegria ou angústia?
_____Um estranho se aproxima, senta-se ao meu lado, não há conversa, é claro! Mas um firme olhar. Seus olhos brilham para o horizonte, como o desabrochar de uma flor, a primeiríssima vez.
_____Entrelaça os dedos e firma os pés, na pouquíssima areia que ali há. Sei tanto de mim, quanto o estranho, de si mesmo. Há muitos desses estranhos encontros à beira do Tejo.
_____Há muito que se diga de um passeio a Lisboa!
_____Há muito que não se viva, quando lá não estamos.
– Uma voz fala, um português engraçado...
– Se morresse agora, morreria feliz! Um sorriso rasgado e ao mesmo tempo triste.
– Porquê morrer, se podes ser feliz quantas vezes quiseres junto ao Tejo?
– Não sei responder-te menina. Desculpe-me!
– Não peça desculpas, apenas reflita no que lhe disse.
_____E digo-te mais, estamos de costas para o Terreiro do Paço e de frente ao grande Tejo; Mas, por detrás de nós está o Martinho da Arcada, onde sentava-se o grande poeta Fernando Pessoa e escreveu... “Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.”
_____Penso que estava de frente ao Tejo... não posso dizer com certeza.
_____Mas digo que...”Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena.”
_____Há sempre uma esperança, um milagre, um poema e um amigo junto ao Tejo...
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