Filhos partilhados

E tudo faz sentido, este amor é tão maior que o mundo…

Sou mãe sim… antes de nascerem, antes mesmo sequer, de terem sido concebidos.

Pois acredito que somos mães, desde o momento, em que o sonhamos ser...

REVISTA VICEJAR – ARTIGOS E OPINIÕES

 

 

_____Deus do céu! A cabeça parece que vai explodir. Dois adolescentes, em plena puberdade com as hormonas em turbilhão, apenas três anos de diferença e... homens. Sim, homens...

_____Porque nesta fase, não somos mães, nem amigas, nem tão pouco mulheres. Os meus, referem-se muitas vezes a mim como “ELA”, e as mães que me estão a ler sabem bem a que me refiro. Nunca tenho razão, nunca sei o que digo. E se comento algo, a primeira reação é : “Não é nada disso”,  mesmo que mais tarde se venha a provar o contrário.

_____Desculpas? Ah...! Raramente se lembram que existem. Depois (e esta comum à maioria) de repetir algo pelo menos cinco vezes, ouço: “Que estavas a dizer?”. E isto na melhor das hipóteses, porque regra geral, sou completamente ignorada.

_____Nunca acerto na comida. E posso até ter a roupa toda arrumada, mas que diabos, tinham de querer logo aquela t-shirt que falta lavar. Dormem até às tantas, nos dias em que trabalho, mas ao Domingo em que folgo, adivinhem? Caem bem cedo da cama, e, nesses dias, silêncio que é bom! Nada... até porque são mais que horas de acordar.

_____Azucrinam-me de ser, e de não ser. De ter, e de não ter. Por vezes sinto-me culpada até de respirar, acreditam? E nesses momentos, dou por mim a pensar, Uff! Para a semana vão para o pai e tenho algum tempo para mim, aliviar a cabeça ou fazer algo que goste.

_____Ao início, sentia-me terrivelmente egoísta com estes pensamentos, embora, seja minha crença que todos nós precisamos de um tempo individual, seja qual for a nossa situação familiar. E chega o momento, vou levá-los...

_____Mas assim que saem do carro e trespassam a porta da outra casa, algo se rasga dentro de mim, como se me arrancassem parte do que trago no peito, e asfixio. “MEUS, são meus, SÓ MEUS”, e que ninguém me venha dizer o contrário, neste momento, é assim que o sinto.

_____Foi decidido para bem das crianças, estar com os dois pais. Acredito ser crucial esta relação e partilha, mas intimamente... não me o consola saber. Entregues... Regresso a casa, e, silêncio...

_____Apenas se ouve o motor do frigorífico a trabalhar, e os meus dedos a teclar no computador enquanto escrevo estas palavras. Estão bem, eu sei. E já lhes sinto a falta. Mando-lhes mensagem, a desejar boa noite, ou com uma piada para os alegrar. Ou talvez para me alegrar a mim.

_____Quando não me telefonam, é agridoce.  Porque se não o fazem, é porque estão bem. Mas é tão bom ser lembrada. Como das vezes que ligam e sussurram ao telefone: “Mãe, está a doer-me a barriga” ou “Mãe, dói-me a cabeça”. Sei, tal como eles, que o pai é bom cuidador. Mas nestes pedidos, muitas vezes, apenas lhes sinto as saudades, e que apenas querem de algum modo, o meu aconchego.

_____E eu, cúmplice, respondo: “Bebe um chá de ervas, evita fritos e doces e não comas porcarias por favor. Ou, toma um bem-u-rom e nada de jogos, vai descansar”.

_____ “Está bem mãe”... E pronto, qualquer desconforto desaparece. Mãe, mãe, mãe... sou... e me sinto.

_____Sim, são rebeldes; imaturos, orgulhosos, por vezes extenuantes..., mas são meus. E foram apanhados nesta roda viva, que é a vida. E sim, têm dias que me deixam esgotada, mas têm outros, em que me tomam ao seu cuidado, como se os papéis se invertessem, e cuidam.

_____Se me deito cansada, os ouço a sussurrarem entre si: “fala baixo, que a mãe precisa descansar”, ou me vêm perguntar, se querem que façam uma bebida quente.

_____E dizem coisas maravilhosas, como um “amo-te” assim do nada, porque o dizem, e muitas vezes sem palavras. E nestes momentos, turvos ou em acalmia, tudo faz sentido. este amor é tão maior que o mundo! Sou mãe sim... antes de nascerem, antes mesmo sequer, de terem sido concebidos.

_____Pois acredito que somos mães, desde o momento, em que o sonhamos ser...





 

 

 TEXTO: Ana Acto 

FACEBOOK: http://www.facebook.com/anaacto 

Ana Acto, nasceu a 5 de abril de 1979 em Tomar, Portugal. Abriu em 2018 nas redes sociais uma página de autora com o seu nome onde partilha a sua escrita em poesia, prosa poética e reflexões. Escreve-nos sobre a vida, e sobre o amor em todas as suas vertentes, romantismo, perda, esperança e sensualidade. Participante ativa em saraus e tertúlias poéticas e coautora em mais de vinte obras coletivas. Lançou em 2020 o seu primeiro livro de poesia, intitulado “NUA”. Para além do gosto pelas letras, tem diversas formações em terapias holísticas e alternativas.

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A articulista atua como Colaboradora deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista da autora, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade.

                                                 

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