“... O céu azul anuncia que vem chegando uma nova estação, e os primeiros botões de rosas dão o ar de sua beleza e majestade.”
REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )
_____As horas passam lentamente, como se os ponteiros parassem no próprio tempo, como se o mundo estivesse sempre em desfavor do relógio. Horas mortas, fúnebres e eternizadas num tempo que já não é. Se o mundo parasse ali naquele exato momento, onde os olhos cálidos do pobre ser moribundo atentava para o nada, nada se passava também, e nada seguia o seu curso.
_____Janelas fechadas, portas trancadas, luzes apagadas, silêncio, calor, agonia, coração acelerado, palpitações, breu. Será que pode um ser, ainda na agitação dos grandes centros urbanos, se apoderar, ou deixar-se apoderar de tão pesada bagagem?
_____Que infortúnio levar tamanho peso para destino nenhum. Rendido às horas vãs, sacrificando a força e a coragem que não possui. Lá fora o outdoor anuncia o “Setembro amarelo” coroado por lindos girassóis, o céu azul anuncia que vem chegando uma nova estação, e os primeiros botões de rosas dão o ar de sua beleza e majestade.
_____Muitos irão passar pelo outdoor, pelos botões em flor, e seus olhos contemplam o azul do céu, o coração quem sabe, num regozijo, numa prece hão de ser gratos. Menos o ser, por detrás das janelas fechadas, que contempla em agonia o breu de suas frustrações.
_____Acredito ter um nome, não um nome qualquer, mas um bonito nome. Penso que suas feições sejam delicadas e de finos traços, que seus olhos brilham e dão luz a escuridão envolta em névoas. Não penso que seja de estatura grande ou pequena, nem que tenha um corpo volumoso ou franzino, apenas um corpo que sente demasiado o peso do mundo.
_____Não me atrevo a pensar que seja de um QI elevado ou de humildes pensamentos, mas atrevo-me a pensar que seja sensível a tudo que rodeia o seu universo. Penso numa mão delicada que toca com força as dores da vida... em pés descalços e pálidos, na falta da terra do jardim da praça.
_____Cabelos despenteados, lábios cerrados, na falta de um sorriso, e penso ouvir de longe as batidas de seu coração, se não o for, talvez seja o meu. E a isto tudo chamamos delicadamente, solidão con(sentida). Sim, aquela solidão só nossa, e está tudo bem. Aquele profundo vazio justificado numa foto de anos atrás, mas com os likes de hoje a tardinha.
_____Aquela saidinha no barzinho da esquina que nem sequer existiu. Flores, janelas abertas, portas destrancadas para o mundo, coração acelerado de felicidade, o outdoor colorido com a frase “Acredite você é, a sua melhor versão”.
_____– Qual é a sua melhor versão?
_____A sua melhor versão, é aquela que contraria a versão de tudo que te diminui e te faz aceitar que o tempo parou, que o breu é o melhor lugar, que janelas abertas não abrem horizontes, e que portas trancadas são a saída mais fácil.
_____A sua melhor versão, é aquela que faz com que teu coração bata descompassado, porque o céu está mais azul, e os botões desabrocham em flor. Porque amas intensamente a melhor versão que ainda podes se tornar, porque acreditas que o mal não está na solidão por si só, mas sim, naquela a quem chamamos intimamente de “solidão con(sentida)”.
Parabéns minha querida!
ResponderExcluirParabéns ilustre Poetisa! Belissima escrita.
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