“Não defendo a tristeza, mas sempre foi assim, é preciso sentir-se triste para desejar fervorosamente a felicidade.”
REVISTA VICEJAR – ARTIGOS E OPINIÕES
_____Há um enredo de estórias mirabolantes dentro do meu ser, que por vezes me faz desacreditar. Não falo de uma descrença formal e isolada, falo num todo sentir. É como se o ar de fantasia que outrora me enchia, desvanecesse juntamente com a neblina de hoje de manhã. Ao longe vejo os faróis de nevoeiro dos carros, mas a estrada só me é visível a cada passo dado. Estranho sentir, né?
_____Mas estranho é sentir o transeunte ao lado com a mesma expressão, o rapaz na paragem de autocarro, a senhora que puxa a criança pelo braço, a moça que passeia o cão... todos com esse mesmo cartão postal de descrença e desconforto em seus rostos.
_____Gosto de pensar que tudo isto seja apenas uma linguagem corporal em resposta aos cansaços nosso de cada dia. Aprecio a forma da descrença como uma outra forma de se enganar os conflitos diários, como uma psicologia reversa criada por cada um, a fim de poder existir mais vezes num mesmo dia.
_____Não defendo a tristeza, mas sempre foi assim, é preciso sentir-se triste para desejar fervorosamente a felicidade. E quando felizes, aprendemos que a tristeza é uma fonte de força que temos guardada, e só a descobrimos nestes momentos de nebulosidade.
_____Custa-me a acreditar! E essa é a ideia da descrença... fazer com que situações que devem ser enfrentadas com audácia e sabedoria, não passem da fraca capacidade de não sentir que podemos continuar sempre. Então porque não acreditar?
_____Há sempre nevoeiro no inverno, mas ainda é possível ver o caminho a cada passo dado. As árvores perdem suas folhas no outono, mas não a firmeza de suas raízes. O sol pode ser abrasador no verão, mas torna os rostos mais rosados e alegres. A primavera enfeita os jardins, mas quando em vez, vê arrancadas suas belas flores, mas nem por isso deixa de florir, de colorir, de sorrir, de desabrochar novamente.
_____Comecei o texto em completa descrença e vulnerabilidade, não estou vendendo a perfeita ideia de um paraíso em meio ao inferno. Nem tampouco invadindo o paraíso com a névoa de um dia de inverno. Apenas tentando sentir que alguma coisa está acontecendo enquanto escrevo, e que esta coisa de tentar sentir irá acontecer quando você ler este texto.
_____Porque é disto que se tratam as palavras, é esta a razão pela qual estamos cheios de um tudo... E quando se trata de tudo, neste pequeno espaço terrestre, faz-se necessário sentir e viver as relações com os infortúnios que nos vão surgindo.
_____Mas tal qual como as estações acima citadas, devemos também ser nós mesmos, sem perder a essência para qual fomos criados. Fortes, ainda que com os sentimentos enevoados... ainda que percamos quando em vez nossas folhagens, mas mantendo firmes nossas raízes.
_____Abrasivos e de rostos alegres rumo ao horizonte... e florir, colorir, sorrir e desabrochar, mesmo quando arrancadas as nossas flores.
_____Então, ainda acreditas?
_____Eu sim, porquê não!
TEXTO: Flaviane Borges
Gosto mto disso ,crônicas, poesias ! Parabéns a vc por esse dom lindo ,maravilhoso ! Gde abraço
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