_____Belinda esperava-me, de braços abertos neste seu cantinho de paraíso.
_____Correu mundo, procurando o seu Ikigai, e aqui, neste lugar que só a Deus lembra, encontrou-o. E, aos poucos, transformou este local e a casa secular, num refúgio aos sentidos.
_____Acordei cedo, espreitei pelas enormes vidraças de meu quarto, que desprovidas de adornos, abarcavam todo o horizonte que se me depunha.
_____O sol nascia, o céu mantinha-se encoberto, as nuvens planavam baixas, formando um nevoeiro misterioso.
_____Via-a, mover-se qual fada no seu mundo, colhendo o que a natureza lhe oferece e transformando, qual pura alquimia.
_____Desci as escadas, ao fundo uma enorme cameleira de flores rosa me recebia, e dela saía um vibrato único, e a meus ouvidos, maravilhoso. Abelhas, dezenas, a recolher o pólen, sorri...
_____Belinda estava na cozinha, olhando para peças de fruta recém colhidas, descascou maçãs bravas, juntou especiarias e fez o nosso pequeno almoço.
_____Sentei-me nas escadas, vendo o sol ganhar a batalha sobre o nevoeiro, e por momentos...
._____Ao longe, ouço uma melodia ritmada, que reconheço de “Fátima” e do milagre dos pastorinhos, é o sino da igreja a lembrar as horas, fazendo soar as badaladas que lhes correspondem e que se repetem a cada meia hora.
_____Samba, o gato, vem fazer-me companhia, roçando-se recetivo nas minhas pernas.
_____Olho ao meu redor, além desta casa, foi reaproveitada ao lado outra, como loja solidária, recolhendo bens em segunda mão que ninguém quer e os reutilizando. Em frente, se estende um passadiço onde Belinda dá suas aulas de yoga, meditações e outras terapias.
_____Destas árvores faz azeite, destas terras, colhe chás, frutas, ervas medicinais...
_____Aceita da terra com o coração e o partilha.
_____Nem sempre assim... Viveu outra vida, urbana. Stress, correrias, cansaço, a levaram a uma introspeção do que realmente queria da vida. E deambulando, aqui se encantou.
_____Observo esta mulher com extrema admiração, uma visionária. Se reconstruir noutro país, sozinha, num pedaço de terra bravio, o olhar com casas decrépitas e ver o seu sonho.
_____Não, não somos apenas o que fazemos, mas o que sonhávamos fazer...
_____Lembro, certo dia, alguém ter-me perguntado num jantar, por cortesia: “Então, o que faz na vida?” e eu, ter respondido a minha atividade profissional.
_____Mas recordo tão bem do que senti, e ter pensado... “não é isso que me define”, foram tantas as circunstâncias da vida que me colocaram nesse caminho, e assim sou vista, assim somos muitas vezes vistos.
_____Mas ao olhar para o percurso de Belinda, que largou tudo o que conhecia e mudou drasticamente sua vida para seguir seu sonho, recordo uma frase que um dia escrevi, que a define a ela, a mim, e a todos nós, e que gostaria de ter respondido.
“Se me queres conhecer, não me perguntes o que possuo ou conquistei, eu falo-te dos meus sonhos...”
( A Belinda Raitt e ao Relaxscape )
TEXTO: Ana Acto
FACEBOOK: http://www.facebook.com/anaacto
Ana Acto, nasceu a 5 de abril de 1979 em Tomar, Portugal. Abriu em 2018 nas redes sociais uma página de autora com o seu nome onde partilha a sua escrita em poesia, prosa poética e reflexões. Escreve-nos sobre a vida, e sobre o amor em todas as suas vertentes, romantismo, perda, esperança e sensualidade. Participante ativa em saraus e tertúlias poéticas e coautora em mais de vinte obras coletivas. Lançou em 2020 o seu primeiro livro de poesia, intitulado “NUA”. Para além do gosto pelas letras, tem diversas formações em terapias holísticas e alternativas.
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