_____Entre as tribos Natal, na África do Sul, é comum a saudação “Sawubona” (em zulu), que significa “Eu vejo-te”. Muito mais que ver, é aceitar os defeitos e as virtudes. O outro, tal como ele é. E em resposta, as pessoas dizem, “Shikoba”, que significa “Então eu existo para ti”. Uma forma de respeito e valorização do outro.
_____Nem sei como nem porque se deu o click. Faço o mesmo caminho, há dias, meses, anos..., mas nesse dia, talvez minha mente serena, fora do corrupio que habitualmente a preenche. E “VI-TE”...
_____Estás, onde julgo sempre teres estado, no centro de uma rotunda. Apenas um minúsculo pedaço de relva te circunda, com algumas flores, estrategicamente plantadas, como embelezamento urbano.
_____Quatro estradas se centram em ti, quatro visões. Eu, despertei numa delas. Vi-te ao longe, e à medida que o carro se aproximava, não consegui ver mais nada, além de ti. E assim é em meu caminho, desde esse dia. Não sei se te colocaram ali, mas quero acreditar que não. Como uma matriarca, de fortes raízes vincadas à terra, te ergues majestosa, quase imperial, lutando por tua carga ancestral, num mundo que não reconheces.
_____Olho-te ali, só. Resiliente. E minha mente, te personifica. És tu, a última alma viva de um povo, orgulhosamente defendendo a sua cultura. O capitão, que se mantém no seu posto, vendo seu navio naufragar... quase até, como a Xamã de uma tribo. Pois ao olhar teu tronco enrugado, vejo seu rosto, e corpo curvado. Teus ramos altos, são braços erguidos, em prece aos céus. E tua folhagem, em constante mudança, são como longos cabelos grisalhos, carregados de sabedoria. Por vezes, invejo-te a força, a resistência, a aceitação. Já noutras, se me aperta o peito, porque te sinto a solidão... E choro-te... Talvez porque me reveja em ti.
_____Um amigo, de longa data, me falava, um destes dias, da importância dos espaços vazios entre ramos... Ah, esse vazio... Tão precioso para deixar entrar o sol e poderem despertar novos rebentos. O vazio... Esse, que traz todo um infinito de possibilidades, mesmo o sendo. Eu olhava para ti, e para teus vazios. E neles, entrevia o pôr do sol que te precedia. E assim te imortalizei em meu coração.
_____Tantos passam por ti diariamente, e nem te “veem”. Tal como eu, não te “via”. Hoje, sorrio quando nos cruzamos, porque te sinto íntima. E um destes dias te prometo, quebro as regras impostas pelos humanos e que nos mantêm afastadas, salto a cerca, e vou-te abraçar. Porque nasceste livre delas, tal como eu.
_____Te saúdo, “SAWUBONA”
_____E sempre te sinto... “SHIKOBA”...
TEXTO: Ana Acto
FACEBOOK: http://www.facebook.com/anaacto
Ana Acto, nasceu a 5 de abril de 1979 em Tomar, Portugal. Abriu em 2018 nas redes sociais uma página de autora com o seu nome onde partilha a sua escrita em poesia, prosa poética e reflexões. Escreve-nos sobre a vida, e sobre o amor em todas as suas vertentes, romantismo, perda, esperança e sensualidade. Participante ativa em saraus e tertúlias poéticas e coautora em mais de vinte obras coletivas. Lançou em 2020 o seu primeiro livro de poesia, intitulado “NUA”. Para além do gosto pelas letras, tem diversas formações em terapias holísticas e alternativas.
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