A margem

“Escrever é como se cada frase fosse a última declaração de amor. Exalto essa crônica com o engenho de um nadador a desbravar o oceano. Destemido, supera o frio, a solidão e as ondas gigantes.” 

REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica ) 



_____Vou levar algumas horas ou quem sabe dias para escrever essa crônica. E agora, ela está aqui, desfilando nas retinas do meu leitor. Sinto-me perdida, entre as fagulhas do tempo. E com o coração em brasa, escrevo esta crônica cujo tema é ela mesma. 

_____Sei bem, leitor! O mundo anda cheio de assuntos para serem pontuados neste espaço. Mas isso, não vai te acalentar. Deixo o mundo de lado com suas mazelas e me preocupo apenas com ela: a crônica. 

_____Teimosa, a dita não quer muita conversa. Arisca e malcriada, permanece amuada. Ela não quer de forma alguma dividir seu apreço comigo. Tudo bem, a escrita é assim: é preciso saber aninhar as palavras, levá-las contra o peito, sentir sua respiração, provocá-las em amor. 

_____As palavras precisam adormecer, para mais tarde, descansadas, serem astros no céu da folha em branco. Em um sono profundo, eu as observo, silenciosas ficam e mansamente, tento contê-las, até despertarem com bocejos de sonho... 

_____Escrever é como se cada frase fosse a última declaração de amor. Exalto essa crônica com o engenho de um nadador a desbravar o oceano. Destemido, supera o frio, a solidão e as ondas gigantes. 

_____Trisco uma letra e ganho uma sílaba. Rabisco duas sílabas e ganho uma palavra. Em tempo, a crônica começa a sorrir, acena um parágrafo e graceja mais dois. Dialogo com ela e no papel, a musa se projeta. Soberana, sabe que será lida por alguém. Sairá da gaiola do coração dessa cronista, para alcançar o horizonte e flamular entre as estrelas. 

_____Permito-me e me ausento, ela repousa, porque entende que amanhã receberá minha visita. Vistosa, gozará de todo sentido e ambiguidade que um texto pode trazer. Enquanto isso, eu e a crônica aqui nos despedimos, nosso próximo encontro, será na outra margem da página de algum leitor, em busca de companhia. 


 TEXTO: Mayanna Velame 
INSTAGRAM: @portugues_amoroso 
Mayanna Velame nasceu em Manaus, em 1983. É graduada em Letras - Língua Portuguesa, pela Universidade Federal do Amazonas. É autora do livro "Português Amoroso" (Editora Madrepérola/Maio de 2020). Escreve periodicamente contos, crônicas e poesias para os sites: "Revista Vicejar", "Revista Conexão Literatura", "Texto Garagem" e "Corvo Literário".
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A articulista atua como Colaboradora deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista da autora, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade. 

             
                       

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