Caem as noites sobre os muros dos lugares adormecidos
e as horas fazem-se miragem
de um tempo esquecido na penumbra das cidades
onde os minutos se tornam
a identificação escondida de cada rosto.
Os seres calam a jornada do dia
que rasgou pulsos e queimou gritos desumanos
com um fio suspenso no véu da garganta.
O odor turvo dos silêncios invade o vício das ruas
desbravadas a cimento e betão.
As veredas afundam-se nos braços de homens e mulheres
apagados pelas sombras esguias
do desejo e dos momentos abstratos,
com as dores amputadas pelos segredos das traições
e das palavras silenciadas.
O secreto obscuro corta as vozes doridas
dos bares onde se afogam as mágoas
mastigadas na raiva dos dias curtos.
E, na noite, embrulhada nas sombras dos vultos
que se atropelam em inconstantes incertezas
permanece a lucidez do luar.
As luzes estremecem
na nudez pálida de uma manhã que tarda...
TEXTO: Paula Freire
FACEBOOK: https://www.facebook.com/su.lima834
Natural de Lourenço Marques, Moçambique, reside atualmente em Vila Nova de Gaia, Portugal. Com formação académica em Psicologia e especialização em Psicoterapia, dedicou vários anos do seu percurso profissional à formação de adultos, nas áreas das Relações Humanas e do Auto-Conhecimento, bem como à prática de clínica privada. Desde muito cedo desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita, tendo colaborado regularmente com publicações em meios de comunicação da imprensa local. O desenho foi sempre outra das suas paixões, sendo autora das imagens de capa de duas obras poéticas lançadas pela Editora Imagem e Publicações em 2021. Há alguns anos, descobriu-se no seu ‘amor’ pela arte da fotografia onde aprecia retratar, em particular, a beleza feminina e a dimensão artística dos elementos da natureza.
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A articulista atua como Colaboradora deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista da autora, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade.
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