Amores

“De todos meus tropeços amorosos, sempre dancei com esse sentimento tão nobre. De cada relacionamento, aprendemos algo e deixamos algum tipo de legado.”

REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica ) 


 

_____Já tive algumas paixões, umas avassaladoras, outras mais contidas, contudo, todas foram vividas no seu modo e tempo. Falar de amor sempre nos instiga. Afinal, como pode alguém, de repente, remexer todo nosso senso e juízo? A resposta talvez, seja justamente não termos nada que defina o que sentimos um pelo outro, quando de fato, apaixonamo-nos. A única certeza que temos é essa: amar é um rebuliço no estômago. É sentir o suor nas mãos, é gaguejar, enquanto se declara, é escolher o presente com minúcias.

_____De todos meus tropeços amorosos, sempre dancei com esse sentimento tão nobre. De cada relacionamento, aprendemos algo e deixamos algum tipo de legado. Creio que isso, seja então, o lado mais humanizador, daquilo que chamamos de amor. O “A”, por exemplo, ensinou-me a gostar de boas cervejas, vinho, vodca, loucuras, noites levianas regadas de porres, foi um amor extremamente etílico. Durou pouco, mas o suficiente para até hoje, eu apreciar uma boa bebida.

_____Entre idas e vindas, também amei o “B”, diferente do A, foi com B que aprendi que o amor também se faz presente na distância e que a saudade, embora machuque, de alguma forma, ela também é capaz de condimentar uma relação. me ensinou a gostar de forró, a comer rubacão, fez-me desbravar pelo sertão, mostrou-me que as coisas belas da vida estão na sua simplicidade: como andar de moto na garupa e sentar à beira de um açude paraibano, enquanto o arrebol se diluía, entre as serras. B ofereceu-me uma música chamada Retrovisor e me disse adeus, assim que deixei o Recife. Lembro-me de que chegamos a passear pelas margens do rio Capibaribe, mas a magia daquelas águas, não foi o suficiente para regar nosso amor.

_____Faz alguns meses e me apaixonei pelo “C”. Desse amor, já conheci o céu, mas também o inferno. não é oito é oitenta. É um tipo de amor imprevisível e frenético. Hoje comigo, amanhã não se sabe. Uma hora acredito em suas palavras, em outra, penso ser apenas uma fantasia, um delírio sentimental. se entregou apenas pela metade e isso, frustra, porque amor em sua essência, precisa ser inteiro, para de fato ser amor. Mas admito, tem seu lado bom, cozinha muito bem, apresentou-me o requinte e a sofisticação gastronômica. E com ele aprendi a tomar amarula com café e a amar sem medo e convenções sociais. O mais interessante é que ri do meu sotaque chiado, e nessa mesma proporção, eu me desdobro com o excesso de seus erres. é minha tempestade e bonança, solidão e coletividade. é minha história de amor inacabada...

_____O amor é assim, por isso, eu me jogo, rasgo-me, sofro, esperneio, alimento a insônia, caio, levanto, sonho e escrevo poesia nos muros da tua rua.  Posso me apaixonar pelo Y, X W, abraçar o H e ser feliz com o J. Mas creio que algo é inevitável, o amor sempre vai causar um engasgo na garganta. Amor é foguete, movimento, dinamicidade. Ele requer doses diárias de coragem, protagonismo. Educado como é, o amor sabe se comportar. Entende de estar e ser, percebe o momento certo de partir, mesmo que para isso, seja necessário sangrar, em nome da liberdade de quem se ama.


 TEXTO: Mayanna Velame 
INSTAGRAM: @portugues_amoroso 
Mayanna Velame nasceu em Manaus, em 1983. É graduada em Letras - Língua Portuguesa, pela Universidade Federal do Amazonas. É autora do livro "Português Amoroso" (Editora Madrepérola/Maio de 2020). Escreve periodicamente contos, crônicas e poesias para os sites: "Revista Vicejar", "Revista Conexão Literatura", "Texto Garagem" e "Corvo Literário".
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