REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )
_____Era manhã de domingo por volta das onze e meia, quando dei entrada à pousada Rainha Santa Isabel, na pequena vila de Estremoz, região do Alentejo. Fazia um calor abrasador e o céu num azul intenso e belo.
_____O castelo, hoje pousada, sua construção foi iniciada no século XIII por D. Sancho II, continuada por D. Afonso III, e depois por D. Dinis com a edificação do Paço Real, onde morreu a Rainha Santa Isabel.
_____Carregando um vasto poder histórico, retratado em belos quadros, esculturas e móveis rústicos da época, o castelo oferece a quem o visita, a tranquila e harmoniosa sensação de estar vivendo a verdadeira época, eternizada em cada detalhe, piso e paredes de pedras acinzentadas.
_____Naquele domingo ensolarado, típico da região, era notável a presença de muitos visitantes estrangeiros. Cada um balbuciando em sua língua o encantamento frente a seus olhos. Fico imaginando o que realmente ocorria em seus pensamentos. Porque nos meus, eu verdadeiramente era arrebatada para dentro da própria vida daquelas paredes e relíquias de tantos anos atrás.
_____Já arrumada a bagagem no quarto, desço para um drink no bar Vasco da Gama, no salão principal com vista para a cidade. Apreciando um vinho do porto tawny vintage, caminho para sala D. Dinis, hoje restaurante, a deslumbrar-me de cada detalhe secular. Esta, possui imensas janelas de onde se contempla toda vila e sua rústica arquitetura, muito bem preservada.
_____Não menos diferente de todo o salão, da porta principal da sala D. Dinis tenho vista para sala do bar Vasco da Gama, onde uma jovem senhora com seus cabelos acinzentados e soltos, dançava encantadamente ao som de Beethoven. O piano delicadamente tocado por um jovem rapaz de vinte e poucos anos, que de olhos fechados transparecia em sua face todo o glamour e poder da sinfonia. Seus dedos físicos estavam ali fervorosamente, mas sua alma, esta não.
_____E a jovem senhora bailava todo seu mundo interior em expressões de beleza musical e poesia em gestos e passos. Como se vivesse o palco, o público e a juventude nas noites em que fora a bailarina francesa, sempre entregue de coração e alma desnuda.
_____Devem está a perguntar-se, como sei que esta desconhecida que rodopia ao som de Beethoven é de certeza uma bailarina francesa a transbordar na alma a vida maravilhosa que viveu nos palcos?
_____Verdadeiramente o sei, pois assim o disse o jovem rapaz de vinte e poucos anos, ao levantar-se do piano e dirigir-se a ela e delicadamente beijar-lhe ambas as mãos.
_____– Serás eternamente a nossa bailarina francesa, mademoiselle Francesca!
_____Ela, abrindo um sorriso espelhado, continuou a rodopiar pela sala, mesmo sem música, livre e leve, fazendo jus ao significado de seu nome.
_____Francesca, significa “francesa livre” ou “aquela que vem da França”.
Fiquei encantada pela bailarina, mas confesso que eu queria me debruçar nessa imensa janela ...
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