Na poesia do poente
o velho homem de pedra repousava o olhar cansado
pelo voo circular das gaivotas.
Os braços da brisa e da maré
puxavam-lhe o rosto para o cais
prolongado na luz das distâncias.
E os barcos não varriam as ondas gravadas na história.
Apenas a calma do repouso lhes era familiar
e de um tempo injusto de palavras e consolos
que as vozes não podiam conter.
Dali, o velho podia ler a hesitação das vagas
a explodirem na perfeita simetria entre a água e o céu
como uma lenda que se aproxima da verdade.
E no seu rosto de sal e rugas demoradas
a saudade que lhe morava ancorada num porto sem frio,
presa nos corredores das memórias construídas a fogo
e dos medos que lhe conheciam de cor a razão.
Lento, com o bramir do vento a soprar-lhe o reflexo da alma
o velho homem de pedra
silenciou os olhos no mar de ondas exaustas
paradas na última imagem do tempo.
Partiu com a bênção da vida
e das velas húmidas de sol e poeira
abraçadas ao sono de um sonho mais leve.
TEXTO: Paula Freire
FACEBOOK: https://www.facebook.com/su.lima834
Natural de Lourenço Marques, Moçambique, reside atualmente em Vila Nova de Gaia, Portugal. Com formação académica em Psicologia e especialização em Psicoterapia, dedicou vários anos do seu percurso profissional à formação de adultos, nas áreas das Relações Humanas e do Auto-Conhecimento, bem como à prática de clínica privada. Desde muito cedo desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita, tendo colaborado regularmente com publicações em meios de comunicação da imprensa local. O desenho foi sempre outra das suas paixões, sendo autora das imagens de capa de duas obras poéticas lançadas pela Editora Imagem e Publicações em 2021. Há alguns anos, descobriu-se no seu ‘amor’ pela arte da fotografia onde aprecia retratar, em particular, a beleza feminina e a dimensão artística dos elementos da natureza.
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