O peso da felicidade

“Afinal, o sorvete era a mais fiel representação de que a felicidade é extremamente saborosa.”

REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica ) 


 

_____Não faz muito tempo, que esse fato aconteceu. Foi durante as férias, numa cidade do Sul do país. Sentada num banco de um shopping center, estava eu a observar o desfile dos transeuntes hipnotizados, pelas ofertas exibidas nas vitrines. Felicidade deveria ser à vista ou com crediário facilitado e sem consulta às pendências da vida. 

_____Dos passos desenfreados dos consumistas. Um grupo de meninas surgiu, reluzindo em seus sorrisos, uma alegria que nenhum capitalista haveria de vender. Divertidas, as mocinhas presumiam ter seus quinze anos de idade. Na primavera juvenil, tudo é encanto, até mesmo um simplório passeio, no reduto da classe-média. 

_____Em mãos, cada uma levava um sorvete de casquinha. O doce gelado, por ora, descia derretido, entre os dedos das protagonistas desta crônica. Mas elas, não se queixavam. Afinal, o sorvete era a mais fiel representação de que a felicidade é extremamente saborosa. 

_____Pensativa, mirei o trajeto das moçoilas. E para minha surpresa, o trio juvenil entrou numa drogaria em frente ao meu banco. Desprovidas de qualquer preocupação, as meninas decidiram, então, subir na balança. Diante delas, aquele objeto obtuso, calculadora de massas, que entrega sem misericórdia, os números da gula nossa de cada dia. 

_____No entanto, aquelas meninas não pareciam se preocupar com isso. Uma a uma se pesou naquele treco frio feito de ferro. Até mesmo a mais roliça subiu, sem qualquer receio dos comentários alheios. 

_____Entregue às calorias, as meninas desdenharam da situação e cada vez mais unidas com aquele momento, deixaram a drogaria com a certeza de que o peso da felicidade é leve. 

_____Para aquelas garotas, não há ditadura ou qualquer tipo de padrão corporal. O importante era apenas ser feliz. Aguçar o paladar e receber o sabor efêmero, que a vida dá e oferece a cada um. 

_____Daquelas meninas, restou-me essa lembrança. De seus rostos, já nem me lembro. Mas ainda assim, acredito que um pouco dessa irreverência jovial, jamais deveria se apagar, de dentro de nós. 


 TEXTO: Mayanna Velame 
INSTAGRAM: @portugues_amoroso 
Mayanna Velame nasceu em Manaus, em 1983. É graduada em Letras - Língua Portuguesa, pela Universidade Federal do Amazonas. É autora do livro "Português Amoroso" (Editora Madrepérola/Maio de 2020). Escreve periodicamente contos, crônicas e poesias para os sites: "Revista Vicejar", "Revista Conexão Literatura", "Texto Garagem" e "Corvo Literário".
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A articulista atua como Colaboradora deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista da autora, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade. 

             
                       

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