REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )
_____A vida é como uma fonte a jorrar a cristalina água, a refrescar os lábios dos pássaros. Dá encanto ao jovem casal de namorados, que espreitam na delicadeza de um beijo. Quando em noite de lua, é espelho e beleza aos olhos curiosos e menos distraídos.
_____Quantas vezes espreitamos a vida, espelhada nas águas das fontes, de frente às grandes catedrais? Ali desejamos, confessamos lamentos, sorrimos e choramos ao Criador.
_____Quando em criança, numa fonte junto à praça, movida pela emoção e brincadeiras da molecada... juntos adentramos suas cristalinas águas. Claramente não era permitido!
_____Mas o que sabe uma criança das permissões do mundo, e das leis dos homens? Ela se permite e pronto.
_____A água estava fresca, num quente verão de Janeiro. Ao molhar-me, pensei ter encontrado a fonte da felicidade eterna, e o que duraria um instante, eternizou em meu coração como a mais doce das lembranças. Até sermos retirados da fresca água cristalina, pelo guarda local.
_____Mas esta foi, porém, naquela minha tenra idade a minha maior ousadia, senão "rebeldia". Uma incrível rebeldia, que nenhum mal ou dano causou, mas perpetuou em mim a certeza de que a vida é bela e simples, como uma fonte junto à praça.
_____Talvez seja por isso que cada cidade, vilarejo e pequenas aldeias têm sua própria fonte junto à praça. Para lembrar da beleza e ousadia da vida, de quanto pode ser rejuvenescedor deixar jorrar de dentro de nós, a cristalina água de tudo que é belo e puro, de tudo que é ser, o reflexo espelhado em meio ao caos dos grandes concretos acinzentados.
_____E ser a própria luz, refletida nos olhos de quem por um instante desistiu de ver e sonhar com a beleza da vida, em todo canto refletida.
_____Sempre que me sento junto a uma fonte, sinto um enorme desejo de me molhar em suas águas... De permitir que a ousadia que cá dentro mora, saia por aí ao encontro da vida. E quem sabe, dividir esse desejo com uns poucos desconhecidos, ali também sentados, à espreita da eterna lembrança do que foi um dia sua própria rebeldia.
_____Da delicadeza de tocar a vida numa singela fonte junto à praça. E quem sabe renovar ou cumprir promessas, lamentar, agradecer ou simplesmente sorrir ao Criador pela dádiva da fonte de vida.
_____E aí, caro leitor, qual história tem a sua fonte inesgotável de vida?
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