O mundo

“O medo reside em nós. Basta lermos os jornais, basta vermos as vidas, que são extintas aqui na esquina, ou do outro lado do mundo.” 

REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica ) 


 

_____“Não, meu coração não é maior que o mundo / É muito menor/ Nele não cabem nem as minhas dores.” 

_____Drummond, eu, você... Quem de nós nunca carregou ou carrega sentimentos doloridos na alma?  Há dias que nos sentimos assim: desnorteados diante das circunstâncias da vida. Não temos como evitar. Cedo ou tarde, as decepções, frustrações e medos irão nos confrontar. 

_____E é nesse confronto que o nosso coração – fortaleza das emoções humanas, de repente se torna pequeno, indefeso. O mais interessante é que Drummond redigiu esses versos, na segunda fase de sua obra poética. Na qual o contexto histórico se insere nos anos 30 e 40. É nesse período, que a poesia de Drummond se voltou para as questões sociais da época: o crescimento do nazi-facismo, a guerra na Espanha, a Segunda Guerra Mundial. E no Brasil, o surgimento da ditadura Vargas. 

_____O interessante é que os anos se passaram. E por mais que a sociedade se enquadre em novas tendências. Ainda assim, somos testemunhas de que o mundo permanece assombrado e refém do egoísmo humano, do extremismo religioso, da intolerância, das incertezas políticas e das crises econômicas. 

_____Drummond parecia de fato entender, que os entraves do mundo ainda iriam circular em nossas vidas, causando em nosso ser descontentamento: “A rua é menor que o mundo / O mundo é grande”. E é nessa grandeza do mundo, que cada vez mais, vamos nos perdendo, com as atrocidades dos homens. 

_____Sitiados pela crueldade humana, vamos vivendo. O medo reside em nós. Basta lermos os jornais, basta vermos as vidas, que são extintas aqui na esquina, ou do outro lado do mundo. Difícil suportarmos tantos desafetos. Sendo assim, para aonde caminhamos? Seguimos para o Norte, Leste, Oeste ou Sul? Não sabemos, o mundo é grande e com ele continuamos a nossa peregrinação. Desacordados e com os olhos vendados, ainda podemos reconstruir esse mundo, demolidor de sonhos. 

_____ “Então, meu coração também pode crescer / Entre o amor e o fogo / Entre a vida e o fogo”. É dessa forma, que Drummond sabiamente finaliza seu poema Mundo grande. Os últimos versos nos levam a acreditar, que a vida e o amor estarão sempre nesse embate, entre as guerras e os tropeços dos homens. O mundo de certa forma é grande, fora de nosso controle, impossível tê-lo em nossas mãos. No entanto, o nosso coração é extraordinariamente manso e prudente, para amenizar as dores, que de vez em quando nos visitam, sem pedir licença. 


 TEXTO: Mayanna Velame 
INSTAGRAM: @portugues_amoroso 
Mayanna Velame nasceu em Manaus, em 1983. É graduada em Letras - Língua Portuguesa, pela Universidade Federal do Amazonas. É autora do livro "Português Amoroso" (Editora Madrepérola/Maio de 2020). Escreve periodicamente contos, crônicas e poesias para os sites: "Revista Vicejar", "Revista Conexão Literatura", "Texto Garagem" e "Corvo Literário".
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A articulista atua como Colaboradora deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista da autora, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade. 

             
                       

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