_____Hoje trago-vos uma parábola. Não que me ache sábia, profeta ou moralmente superior a alguém, para deixar alguma lição, mas a natureza mostrou-ma, no seu modo humilde e delicado de se fazer sentir, e quis partilhar convosco.
_____Fui à homeopata pela primeira vez, e senti-me “nua” a seus olhos. Curioso dizê-lo deste modo, dado que parte da sua avaliação foi feita através da íris. Entre pequenas queixas e desabafos, aconselhou-me ao sair da consulta, ir pôr os pés no mar, areia e água salgada, para me ajudar a limpar e a energizar (e pensar sobre o que me disse). Desde sempre, os banhos de mar foram recomendados como cura para muitas maleitas. E como sou bem-mandada, assim o fiz.
_____Estacionei, e comecei a passear na calçada junto ao mar. Não me apeteceu deslocar mais longe onde há areais extensos. Aqui uma pequena praia, mas suficiente para o meu propósito. As pessoas apenas passeavam ali, embora ao longo deste caminho, descessem várias pequenas escadas que davam para o areal. Percebi o porquê, maré alta, a areia estava totalmente coberta, e a água roçava embatia suavemente contra a muralha.
_____A princípio pensei ir embora, mas depois pensei, não precisava de me sentar na areia, mas sentir a água em meu corpo. E desci umas dessas escadas, descalcei-me, pousei a mala e o livro de Eugénio de Andrade que tinha acabado de comprar, e, no último degrau junto ao mar, sentei-me.
_____Quem passava, olhava. A escada não tinha mais de três palmos de largura, e eu ali em baixo, com as pernas enfiadas na água até ao joelho. Respirei fundo, refleti em tudo o que tínhamos conversado no consultório. Peguei no livro, fechei os olhos, abri aleatoriamente o livro, e li... “Tu já tinhas um nome, e eu não sei se eras fonte ou brisa ou mar ou flor. Nos meus versos chamar-te-ei amor”, (nem imaginava o quanto apropriado estas palavras seriam). O telefone tocou, chamando-me para a realidade, e afastando-me do meu momento. Depois de resolver o pedido, fechei novamente os olhos, e pedi ao mar que levasse de mim, tudo o que não me acrescentava, o que me magoava e não me permitia seguir.
_____Ao universo, pedi que me trouxesse paz de espírito, coragem, perseverança e amor. Amor...
_____Abri os olhos, a água fazia deslizar lentamente na corrente uma folha seca, que parou a meus pés. Peguei nela cuidadosamente, tinha todos os rebordos encolhidos, como que fechada em si, como um coração.
_____Pensava nela e no que poderia significar, quando uma segunda aparece. Esta, metade fechada, outra metade completamente aberta, sorri... percebi. Aos poucos pensei eu.
_____E aparece uma terceira, esta, completamente aberta. As três, faziam uma sequência perfeita. Coincidência? Já sabem que não acredito nisso. Pedi iluminação, e o universo respondeu-me do seu modo perfeito, aos que nele confiam, A natureza, mostrou-me a sua sabedoria. Respirar, acalmar, aceitar, perdoar, e tudo fluirá. E o que se fechou, aos poucos se irá abrindo novamente.
_____O telefone tocou, peguei nele, e novamente, cortei este cordão divino. Até isso me ensinou algo. Afastamo-nos tantas vezes do essencial, do que somos e do que realmente queremos, por forças exteriores e de terceiros, mas também porque o permitimos.
_____Ao desligar, reparei que mais folhas vinham novamente ter a meus pés. Mas desta vez, apenas duas, uma apenas meio aberta, e uma totalmente aberta. Olhei confusa, tentando depreender o que me poderiam querer mostrar, porque afinal, pensei ter entendido a sequência. E não peguei nestas, deixei-as ir na corrente, e fiquei a olhá-las.
_____E nesse momento, tudo fez realmente sentido.
_____Deixar ir... sim...
_____Sorri, e agradeci em silêncio.
_____“CURA-TE, e não permitas que se repita. Abre-te ao mundo, consciente no momento presente.
_____Tudo o resto! Deixa ir...”
TEXTO: Ana Acto
FACEBOOK: http://www.facebook.com/anaacto
Ana Acto, nasceu a 5 de abril de 1979 em Tomar, Portugal. Abriu em 2018 nas redes sociais uma página de autora com o seu nome onde partilha a sua escrita em poesia, prosa poética e reflexões. Escreve-nos sobre a vida, e sobre o amor em todas as suas vertentes, romantismo, perda, esperança e sensualidade. Participante ativa em saraus e tertúlias poéticas e coautora em mais de vinte obras coletivas. Lançou em 2020 o seu primeiro livro de poesia, intitulado “NUA”. Para além do gosto pelas letras, tem diversas formações em terapias holísticas e alternativas.
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