“Do topo mais alto que alcanço, vejo o mundo de cima. Ele parece uma miniatura, ajoelhado diante de um gigante. Do cume, não prevejo penúrias."
REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )
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_____Resolvo por alguns dias, tentar me evadir do mundo. Arrumo minha pequena bagagem e na inocência existente, acredito me refugiar das dores humanas. Posso ensaiar burilar a realidade, mas o coração, esse sujeito intenso, eu pouco posso enganar. Rodeada pelas colinas das terras Gerais, deixo as palavras descansarem e serem levadas pelo sopro do vento. De vez em quando, eu as permito seguirem sem mim, abro o portão da escrita e elas se vão como pássaros, ganham o horizonte e adormecem ladeadas pelas nuvens.
_____Nesse verão que segue solto, o azul do céu derrete em meus olhos. Do topo mais alto que alcanço, vejo o mundo de cima. Ele parece uma miniatura, ajoelhado diante de um gigante. Do cume, não prevejo penúrias. Há uma paz que sobrecarrega meus sonhos. De olhos cerrados, esqueço-me dos entraves que me esperam lá embaixo. Há um silêncio que badala nas torres da minha razão.
_____Aqui o tempo não para, mas não há necessidade de apressar meus passos. As horas correm, porque são elementos dos rios da vida. Nesse navegar que me rendo, detenho a existência e risco alguns parágrafos de constante alegria. Na efemeridade que somos cúmplices, as primeiras páginas são redigidas com um clamor sereno, que busco na constância do meu descontentamento.
_____Deus tem uma visão ímpar do mundo e deve ser por isso, que pouco desça para visitar os homens. Na hesitação teocrática, não devo me rebelar. Não tenho revoltas, quando posso me sentir parte dessa imensidão chamada de mundo. Desses vales esverdeados, sigo como um pastor, a direcionar seu rebanho. No entanto, meu rebanho, são as palavras e a elas, permito que me guiem, pelos riachos e cachoeiras, trilhas e ribeirões.
_____Um torvelinho me acorda, de olhos abertos, persigo os raios de sol, que se lançam anunciando o fim do dia. As primeiras luzes das cidades circundantes começam a fervilhar. Anunciam que muito em breve, um outro dia surgirá com seus sonhos e medos.
_____Permito-me então, deixar meu abrigo. A descida me leva ao encontro da realidade. Logo, o celular irá apitar, o dedo deslizará frenético pelos sites de notícias. Triste saber que as coisas boas se diluem. Tornam-se moradas em nossa memória.
_____Já em casa, fico a saber que um sujeito loiro, da face meio alaranjada, anda ameaçando o mundo. Esbraveja a ira e exalta a soberba ianque. Eu pouco me importo com isso, apenas teço essas últimas palavras, assim como fizera A Moça Tecelã, no conto de Marina Colasanti. Sim, eu devo fazer isso, antes que os loucos terminem com o planeta.
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