"E um dia, talvez, alguém encontre um dos livros que escrevi numa estante empoeirada, e reconheça o meu nome como a 'Última das românticas'."
REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )
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_____Hoje perguntaram-me se sou romântica. Sorri. Logo eu que beijo com palavras. Romântica! Sou... ou era.
_____Porque por vezes já entro em conflito interno com minha própria essência. Romântica... e é tão simples sabê-lo, basta ler-me.
_____Olho em volta, e por vezes sinto-me como uma nómada, até mesmo meio antiquada. Bem sei que os tempos são outros, hoje as relações são casuais, abertas, livres.
_____De certo modo até concordo, mas... apenas em parte. E tento me encaixar nesse padrão, seguindo as “novas” tendências nesta realidade.
_____Mas não... não consigo encaixar-me, e sinceramente, nem faço questão. Sou romântica, sim, romântica incurável, apaixonada, atormentada, sou e o assumo com muito orgulho.
_____Cada vez mais me entrego a esta minha vertente, recentemente comprei um gira-disco, fazia tempo que o desejava fazer, e amo chegar ao fim do dia e, como um ritual, colocar com gentileza o vinil do Elvis, acender uma vela aromática e sentar-me, sossegada, com uma chávena de cevada ou chá, feito na minha chaleira vintage. Fechar os olhos e sentir, deliciosamente, sentir.
_____Cada vez mais amo esses momentos, os pormenores, as coisas simples, delicadas, sentidas.
_____Minha escritora favorita é Jane Austen, (apaixonada por literatura inglesa), julgo ter lido todos os seus livros e visto todos os filmes adaptados de seus livros, múltiplas vezes, (“Orgulho e Preconceito” é sem dúvida, o meu preferido, esse já perdi a conta de vezes que o vi), e que cada vez que dão a na televisão, me entrego como a primeira vez, e fico ali, rendida, secretamente desejando ser a Elizabeth Bennet apaixonada pelo meu Darcy,
_____Amo toda aquela delicadeza dos romances de época, tudo me fascina e desperta, ou não tivesse eu uma cama de dossel. E só quem sente assim, entende o arrepio que um toque despercebido, sem querer, na mão provoca, ou como um olhar silencioso nos deixa com as pernas a tremer, toda essa sensibilidade de gestos, de palavras, de intenções subentendidas, é para mim mais erótica e estimulante que qualquer outra coisa.
_____Quando digo que sou fanática pelo fantasma da Ópera, (minha grande paixão, que ouço mil vezes e mil vezes arrepio, canto e estremeço) as minhas amigas olham para mim meio horrorizadas como se eu fosse uma qualquer espécie estranha.
_____Pouco me importa. E não, não quero encaixar-me nas novas tendências, nem me importo que todo este meu romantismo me transforme em eremita. Se isso é ser exigente e me condena a “solitária” neste sentir! paciência, assim seja. Mas quero andar na rua de mão dada, a cabeça encostada no ombro do meu Darcy a ver o pôr do sol, quero dormir abraçada, aninhada, pele com pele, mesmo que seja desconfortável e me tire parte do sono.
_____Sou exigente... porque quero beijos apaixonados, não convenientes. Porque quero flores, pouco me importa que sejam de um jardim alheio, ou uma papoila que nasceu rebelde num passeio.
_____Cartas de amor! oh isso sim, já consideraria uma exigência, mas aí aceito as novas realidades e um toque de mensagem no telemóvel já me aquece o peito, com um simples “pensei em ti”. Tão simples... assim o entendo, e não aceito nada, que me dê menos.
_____Talvez a idade me tenha aprimorado este sentir, ou talvez não.
_____O romantismo, quer-me parecer, está em vias de extinção. E eu, talvez me extinga com ele.
_____Mas o deixarei impresso em minhas palavras.
_____E um dia, talvez, alguém encontre um dos livros que escrevi, numa estante empoeirada, e reconheça o meu nome como a “Última das românticas”.
TEXTO: Ana Acto
FACEBOOK: http://www.facebook.com/anaacto
Ana Acto, nasceu a 5 de abril de 1979 em Tomar, Portugal. Abriu em 2018 nas redes sociais uma página de autora com o seu nome onde partilha a sua escrita em poesia, prosa poética e reflexões. Escreve-nos sobre a vida, e sobre o amor em todas as suas vertentes, romantismo, perda, esperança e sensualidade. Participante ativa em saraus e tertúlias poéticas e coautora em mais de vinte obras coletivas. Lançou em 2020 o seu primeiro livro de poesia, intitulado “NUA”. Para além do gosto pelas letras, tem diversas formações em terapias holísticas e alternativas.
O articulista atua como Colaborador deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista do autor, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade.
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