O maniqueísmo vem renascendo nas ações das pessoas em torno de assuntos que geram polêmica, em qualquer campo de discussão
Quase dois mil anos se passaram, a doutrina de Maniqueu já foi muitas vezes criticada e revista, não é praticada desde o final da Idade Média, mas o maniqueísmo, termo que atesta tal atitude extrema, vem renascendo nas ações das pessoas em torno de assuntos que geram polêmica, em qualquer campo de discussão, mais especialmente àqueles voltados a questões econômico / político / sociais.
Fatos, ações e ideias cada vez mais radicais estão se tornando atitudes comuns no relacionamento humano, levando à intransigência crônica e a leviandade generalizada. Os meios termos deixaram de ter validade, justamente numa época em que a tecnologia tornou possível enxergar e reproduzir toda uma miríade quase infinita de cores. Boa parte das pessoas insiste em fixar nosso entendimento ou no branco, ou no preto.
Se esses fatos, ações e ideias são divididos exclusivamente entre “o que presta” e “o que não presta”, também as pessoas estão sendo vistas desta forma. Você deve concordar 100% com o pensamento do sujeito, sob risco de, se discordar de apenas 1%, ser considerado mal caráter, desonesto, ingênuo ou ignorante em todos os outros 99% daquilo que você pensa ou é. Nenhuma ideia pode ser discutida sob o prisma de suas nuances: ou é totalmente certa e deve ser integralmente aceita, ou é totalmente errada e deve ser completamente descartada.
Nossa sociedade moderna se desenvolveu pautada na visão científica e racional, graças à genialidade, dentre outros, do filósofo Descartes, que colocou como fonte do conhecimento não a certeza, mas a dúvida, aquela que nos permite questionar as verdades sempre que nelas perpassem qualquer sombra, por menor que seja, de incerteza.
Por fim, essa busca pela afirmação das certezas parece uma necessidade premente de autoafirmação e tem cobrado o alto preço da deterioração das relações humanas.
REVISTA VICEJAR – ATUALIDADE E COMPORTAMENTO
No
século III d.C., o pensador persa Maniqueu foi responsável pela criação da
religião maniqueísta e da base filosófica desta doutrina. De maneira
simplificada, podemos dizer que a doutrina dividia tudo o que existe (física ou
metafisicamente) de forma dualista, estabelecendo uma oposição irreconciliável
entre o Bem e o Mal. Se algo denotava o bem, era inteiramente bom; se algo
indicava o Mal, era inteiramente mau.
Quase dois mil anos se passaram, a doutrina de Maniqueu já foi muitas vezes criticada e revista, não é praticada desde o final da Idade Média, mas o maniqueísmo, termo que atesta tal atitude extrema, vem renascendo nas ações das pessoas em torno de assuntos que geram polêmica, em qualquer campo de discussão, mais especialmente àqueles voltados a questões econômico / político / sociais.
Fatos, ações e ideias cada vez mais radicais estão se tornando atitudes comuns no relacionamento humano, levando à intransigência crônica e a leviandade generalizada. Os meios termos deixaram de ter validade, justamente numa época em que a tecnologia tornou possível enxergar e reproduzir toda uma miríade quase infinita de cores. Boa parte das pessoas insiste em fixar nosso entendimento ou no branco, ou no preto.
Se esses fatos, ações e ideias são divididos exclusivamente entre “o que presta” e “o que não presta”, também as pessoas estão sendo vistas desta forma. Você deve concordar 100% com o pensamento do sujeito, sob risco de, se discordar de apenas 1%, ser considerado mal caráter, desonesto, ingênuo ou ignorante em todos os outros 99% daquilo que você pensa ou é. Nenhuma ideia pode ser discutida sob o prisma de suas nuances: ou é totalmente certa e deve ser integralmente aceita, ou é totalmente errada e deve ser completamente descartada.
Nossa sociedade moderna se desenvolveu pautada na visão científica e racional, graças à genialidade, dentre outros, do filósofo Descartes, que colocou como fonte do conhecimento não a certeza, mas a dúvida, aquela que nos permite questionar as verdades sempre que nelas perpassem qualquer sombra, por menor que seja, de incerteza.
Permite,
também, explorar as diferenças, sutilezas e similaridades do mundo a nossa
volta, seja no aspecto físico ou intelectual, não nos prendendo a conceitos
superficiais e inflexíveis. E, apesar de ser o cerne do desenvolvimento social
nos séculos recentes, tal atitude infelizmente ainda é seguida por poucos e tem
encontrado cada vez mais resistência na radicalidade dos discursos atuais.
Por fim, essa busca pela afirmação das certezas parece uma necessidade premente de autoafirmação e tem cobrado o alto preço da deterioração das relações humanas.
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