"Eu não gostei de ter crescido, realmente.
Vez por outra eu me perco à minha procura."
REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Poesia )
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FAZ DE CONTA:
assim meio descuidado, meio distraído,
e pelas brincadeiras de infância atraído.
Vieram outros dias, outras noites,
e, então, o tempo, sorrateiramente,
foi levando para longe de mim, dia após dia,
o pião que fazia girar as minhas fantasias;
as bolinhas de sabão, que eram meu alento,
foram desmanchando-se ao sopro do vento.
O faz de conta, os pés descalços, as “partidas”,
o “bate-bola” nos campinhos de terra batida;
as alegres brincadeiras de “esconde-esconde”,
me escondiam do mundo adulto, não sei onde.
Enfim, até me dar conta que chegou o dia
de que esconder já não mais conseguia.
Eu não gostei de ter crescido, realmente.
Vez por outra eu me perco à minha procura.
Eu queria ter de novo aquela estatura,
aquela inocência, aquela candura.
Não queira esse mundo de loucura,
onde a verdade se vai e a mentira perdura.
Eu queria ser um menino eternamente.
Na verdade sou criança, apesar da aparência,
e luto para não ser adulto, com veemência,
para não adulterar de vez a minha essência.
O pião perdeu-se num mundo que continua a girar,
as bolinhas de sabão desfizeram-se de vez pelo ar
e nas ruas asfaltadas meus pés calçados vêm pisar.
Mas eu sigo brincando de esconde-esconde, contudo,
com o tempo que insiste em transformar tudo;
faz de crianças alegres, adultos sisudos;
Meu corpo de adulto pelo tempo foi esculpido,
embora me sinta criança, num corpo crescido,
com roupas de adultos, mas espírito despido.
Quanto mais ele muda, mais me contraponho,
pois muda um reino encantado de sonhos,
em um mundo ainda mais infeliz e tristonho.
Cresci e não gostei; isso me desaponta.
Por isso mantenho esse desejo oculto,
insistindo em brincar de faz de conta,
“fazendo de conta” que sou adulto.
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_____No dia 12 de outubro é comemorado no Brasil o "Dia das Crianças".
_____Ao invés disso, é a constatação de estar vivenciando a chamada fase intermediária entre a infância e a velhice, mas desejando, de maneira utópica, regressar cronologicamente a uma etapa considerada feliz, que passou de maneira tão fugaz.
Paulo Cesar Paschoalini nasceu em 20 de março de 1960 em Piracicaba-SP. É graduado em Licenciatura em Filosofia, escritor de poesias e contos, com premiações em Concursos nacionais e internacionais, tendo textos de ambos os gêneros publicados no exterior. Seu livro "Arcos e Frestas" foi selecionado no "3º Concurso Blocos de Poesias" e publicado em 2003. Publicou recentemente o livro de poesias "Mar adento, mundo afora", pelo "Clube de Autores", no ano de 2024. Foi premiado na categoria crônicas em eventos literários e de seus textos foram publicadas no Jornal de Piracicaba em 2001, 2002 e 2005. É compositor (letrista) de vinte músicas de diversos estilos, em parceria. Seu original de contos, ainda sem título, contém 20 textos desse gênero e aguarda patrocínio para lançamento.
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