"Quisera ser escritor para sentir o mundo, reconhecer que o alfabeto cintila, tal qual as constelações, nas noites mais tépidas dos trópicos."
REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )
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_____Quisera ser escritor, porque nunca fora uma palavra. Um verbo a ser acionado, para dinamizar os sujeitos no mundo. Quem sabe quisera ser uma conjunção, para compor os parágrafos soltos da vida, costurar os nós da unidade, do texto que somos.
_____Quisera ser escritor, para invocar as emoções, ser a interjeição expressa, em todos os âmbitos, de onde se escreve o amor e os lamentos irreversíveis de viver.
_____Quisera ser escritor para condicionar os advérbios, nas circunstâncias propostas pelo tempo e modo de cada leitor. No agora ou no nunca, no lá ou no aqui. No sempre ou no talvez, quisera ser domador de palavras, para apanhar os enredos mais engenhosos, os versos mais líricos, encolhidos nas mais altas nuvens da imaginação.
_____Quisera ser escritor para dicionarizar os sentimentos, ludibriar a gramática e suas regras, humanizar a norma-culta, da língua dos letrados. Na exceção, quisera ser escritor para declamar o silêncio, redigir as possibilidades do impossível, personificar a vida e suas dores.
_____Na arte da escrita, a caneta incita o papel, sara as feridas abertas, diagnosticadas em personagens como eu e você. Quisera ser escritor para sentir o mundo, reconhecer que o alfabeto cintila, tal qual as constelações, nas noites mais tépidas dos trópicos.
_____Quisera ser escritor para ser substantivo próprio da matéria palavra. Ser primitivo, para em seguida derivar as ideias, o escopo, a textura das letras incrustadas, nos poros sempre expostos.
_____Quisera para ser o período mais longo, das frases ditas com pronomes rabiscados e esquecidos. Sujeitos vivos e pincelados, nas orações subordinadas aos nossos sonhos.
_____Da realidade, então sugerida, quisera ser escritor para permear os meandros daquilo que poderia ter acontecido. Das suposições de cada um, das histórias ambíguas, dos diálogos que gostaríamos de dizer.
_____Do travessão ao ponto-final, quantas palavras cabem na vida de um escritor? Quantas personagens habitam em nós? Quisera ser escritor para escrever sobre o mundo, ou quem sabe, não seja o próprio mundo, que escreva um tanto, sobre cada um de nós...
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