Porque não compram poesia, se somos um país de poetas?

“A poesia quer estar viva, nas ruas, nas escolas, nos cafés, na rádio, na televisão. Simples, a poesia é vida e emoção.”

REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônicas )


A poesia surgiu na minha vida apenas aos trinta e seis anos de idade, talvez tarde, mas com a maturidade dos anos. Sempre li alguma poesia, mas era reticente a escrever neste registro, pelo simples facto de não conseguir rimar. Dentro do meu pensamento era um exercício difícil. Sempre revelei gosto pelos livros e principalmente por cadernos e canetas. Vício.

Mas como surgiu a poesia? Surgiu num dia difícil em que coloquei no papel o que sentia dentro de um ritmo. Guardei. Publiquei mais tarde. Jamais pensei ser poesia! Após a elaboração de mais alguns pedaços de escrita e de partilha secreta alguém disse-me que seria poesia intimista. Como poesia? Eu não sei rimar! Não consigo escrever poemas...

Fui pesquisar, ler sobre o assunto. Sim, estava a escrever poesia. E entrei nesta aventura de ser poeta ou poetisa. E jamais tive retorno. Poderei considerar que a poesia salvou-me, foi âncora que deu azo ao meu pensamento. As palavras começaram a surgir do acaso e a construir poemas cada vez mais elaborados, profundos e com um vasto sentir...

Não sei estudar um poema. Escrevo sem contar as sílabas, as estrofes, os versos, os recursos estilísticos. Serei menos poeta/poetisa? Talvez sim, talvez não! Sei sentir as emoções guardadas num poema. Escrevo por instinto, inspiração e constante desejo.

Leio com frequência poesia. Investigo sobre poesia. Leio os poetas com os quais sinto admiração: os vivos e os que já partiram. E penso que é aqui que reside o erro. Vivemos presos aos poetas que já partiram e não valorizamos a escrita atual.

A poesia quer estar viva, nas ruas, nas escolas, nos cafés, na rádio, na televisão. Simples, a poesia é vida e emoção. É um constante mergulhar na profundidade das almas e despir o mundo. Há quem escreva por sentir, por fingir sentir e por negar sentir o que sente. A quem trabalhe a sua criatividade, explore técnicas de inspiração, evolua. Não devemos ficar presos ao passado. Criamos a ideia que a poesia é difícil de compreender, escrever e/ou ler, recitar. Quando podemos fazê-lo no silêncio e a sós.

Acredito num trabalho de aproximação às escolas, às crianças, à realização de Ateliers Poéticos que mobilizam diferentes artes. Numa constante valorização das partilhas entre poetas/poetizas através de encontros, partilhas, desafios poéticos, divulgação do seu trabalho- livros e é neste sentido que construo o meu caminho. Valorizando o dom que a vida me entregou nas mãos para cuidar... a poesia!!



 TEXTO: Carla Félix 
_______________________________________________
A articulista atua como Colaboradora deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista do autora, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade.

Comentários

  1. Texto lindo e questionador. Gostaria de destacar um trecho, em especial: "Não sei estudar um poema. Escrevo sem contar as sílabas, as estrofes, os versos, os recursos estilísticos. Serei menos poeta/poetisa?"... Penso, particularmente, que muitos 'racionalizam a poesia', quando reconhecem como poetas 'apenas' aqueles que rimam, ou contam sílabas e se fecham à outras imposições literárias, que, a meu ver, nada tem a ver com poesia. Rimas e métricas são (às vezes) muito bem vindas, mas não imprescindíveis. Para ser poesia tem que ter liberdade e, principalmente, 'deixar a alma falar'. Parabéns por pelas suas poesias que não se prendem à 'tamanho', mas que expressam sensibilidade 'sem tamanho'!!!

    ResponderExcluir

Postar um comentário