“Gênio indomável” e o autoconhecimento

“Para  Sócrates,  a  busca  do  conhecimento  tinha  como objetivo o autoconhecimento; ‘conhece-te a ti mesmo’, que propiciaria também o conhecimento do universo.”

REVISTA VICEJAR – ARTE E CULTURA ( Cinema )


O filme “Gênio indomável” (Good Will Hunting) é uma produção estadunidense de 1997, dirigido por Gus Van Sant, tendo como roteiristas Matt Damon e Bem Affleck, sendo indicada em oito categorias ao Prêmio Oscar de 1998, ganhando as estatuetas de Melhor Ator Coadjuvante, pela atuação de Robin Williams, e de Melhor Roteiro Original.

Narra a história de Will Huntig, interpretado por Matt Damon, um jovem superdotado, com talento matemático incomum, que trabalha como faxineiro na Universidade de Boston, quando o Prof. Lambeau expõe no corredor um teorema complexo, desafiando seus alunos.

Assim, devido às suas habilidades, Hunting, que não era aluno da Universidade, consegue facilmente encontrar a solução, contudo sem se identificar, deixando intrigado o professor desafiante. Porém, quando descobre quem é o autor da façanha, acaba por encontrar uma pessoa, que apesar de muito inteligente, possui sérios problemas de adaptação social.

Quem Sou eu?
Supõe-se que os primeiros questionamentos filosóficos teriam sido as três perguntas cruciais: “quem eu sou?”, “de onde vim?” e “para onde vou?”. Elas não só originaram a busca do homem pelo conhecimento, como também continuam a ser objeto de reflexões sobre a natureza humana nos dias de hoje.

Ao mostrar a vida de Will Hunting, um jovem órfão, com poucos recursos financeiros e possuidor de uma capacidade intelectual incomum, o filme quer abordar o que talvez seja a primeira questão existencial; quem na verdade seria esse sujeito com tamanho potencial? 

Ao longo da história, o Prof. Lambeau coloca o jovem em contato com alguns psicólogos, o que não deixa de ser uma forma de entender melhor seu comportamento. Hunting, entretanto, dificulta qualquer possibilidade nesse sentido, numa atitude de autodefesa, a fim de se esconder dos problemas de agressividade e distanciamento social.

Assim, apesar de o jovem possuir um conhecimento lógico-matemático invejável, portanto, uma questão considerada externa, no seu interior é um estranho a si próprio. Para Sócrates, a busca do conhecimento tinha como objetivo o autoconhecimento; “conhece-te a ti mesmo”, que propiciaria também o conhecimento do universo.

Gênio ou talentoso:
Embora o título “Gênio indomável” seja uma tradução brasileira do original “Good Will Hunting”, é interessante levantar a questão se o correto seria o uso do adjetivo “gênio” para pessoas que possuem altas habilidades individuais. Para muitos, o termo que melhor se adequaria ao personagem seria “talento” e não propriamente “genialidade”.

De acordo com o livro “Talento e superdotação: problema ou solução?”, o autor M. L. P. Sabatella destaca que deveria ser reconhecida como “gênio” a pessoa que tivesse dado uma contribuição original e de grande valor e transformação social, casos com o quilate de Albert Einstein ou Leonardo da Vinci, por exemplo.

Segundo o filósofo alemão Arthur Schopenhauer, “talento é quando um atirador atinge um alvo que os outros não conseguem. Gênio é quando um atirador atinge um alvo que os outros não veem”. Assim, no caso do protagonista, ele apenas demonstrou possuir uma habilidade incomum, não esboçando sequer novas teses ou teorias relevantes.

Natureza humana
Sem dúvida, um filme que nos leva obrigatoriamente a uma reflexão acerca da natureza humana. Primeiramente, uma autoanálise, refletindo sobre nosso comportamento pessoal na vida em sociedade, questionando sobre nossas potencialidades e encarando nossas fraquezas e medos.

Em segundo lugar, lançar um olhar sobre as pessoas de convivência mais próxima, visando detectar eventuais problemas de relacionamento e criar condições para que dificuldades interpessoais possam ser dirimidas, se for o caso, com ajuda de profissionais de áreas como a psicologia, por exemplo.

Enfim, uma produção cinematográfica que certamente deverá ser incluída no rol das chamadas “obrigatórias”, com objetivo de um melhor dimensionamento das diversidades presentes no espírito humano.


Graduado em Licenciatura em Filosofia, escreve poesias, contos e crônicas, tendo premiações em concursos nacionais e internacionais, tendo textos de gêneros diferentes publicados no exterior. Escreveu o livro “Arcos e Frestas”, selecionado em 2002 no “3º Concurso Blocos de Poesias” Blocos. Suas crônicas foram publicadas no Jornal de Piracicaba em 2001, 2002 e 2005. É compositor, em parceria, de 20 músicas, de diversos estilos. É autor de “Mar adentro, mundo afora” (poesias) e “Paredes e tons” (contos), para lançamento em breve (aguardando patrocínio / parceria).
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