E tu, mãe? Que queres ser quando fores grande?

 Há perguntas que nos desarmam de tão inocentes e puras, e se revelam ainda assim, de uma profundidade emocionalmente complexa.

REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )

 


_____Assim me coube a mim...

_____ E tu mãe? Que queres ser quando fores grande?

_____Não apenas o que queres ser? Seria muito simples responder, porque acredito que podemos sempre ser. Mas... quando fores grande?

_____Este pequeno ser maravilhoso olhava para mim expectante, e eu, surpresa por me sentir sua igual, apenas lhe respondi...

_____– Tua mãe...

_____Olhou para mim embevecido, gostou da resposta, mas...

_____– E que mais?

_____Assim perguntou o meu Santiago numa conversa informal durante um jantar, onde debatia com o irmão Francisco o futuro.

_____É certo que nessas idades (ambos entre os 5 e 8 anos), raros são os que têm uma ideia exata do que querem ser, reformulando, até têm, astronautas, arqueólogos, jogadores de futebol...

_____E sou a favor de incentivar estes sonhos, o homem foi à lua e continua na exploração do universo, temos entre nós o melhor jogador do mundo, assim dizem os entendidos, alguém acreditou nestes sonhos e os concretizou. Mas esta pergunta deixou-me por momentos sinceramente desnorteada e extremamente sensibilizada, afinal já era adulta e supostamente tinha a minha vida estruturada, assim o pensava, trabalhava em hotelaria num negócio familiar que ainda hoje mantenho e pronto, então porquê esta pergunta? Talvez sentisse que isso era apenas trabalho, o nosso sustento, mas que faltava algo, o que o alimentava a ele, o que me deveria alimentar a mim ainda, sonhar...

_____Já se passaram oito anos desde a pergunta, e a recordo imensas vezes, porque desde então sonhei, mas não me limitei a sonhar, realizei imensos sonhos, que nem sabia ter.

_____Tão longe estava na altra que pudesse ainda vivenciar, ser ou fazer coisas tão extraordinárias.

_____Desde então comecei a escrever, ao início quase como graça, mas aos poucos as asas surgiram e entrei em dezenas de obras coletivas, saraus, programas de rádio, Tv e até lancei um livro, acreditam? Eu, ainda não...

_____– Que queres ser quando fores grande mãe?...

_____Obrigada meu amor... por sentires que “ser apenas tua mãe” não bastava (para mim já era tudo).

_____Mas a ti... que me vias com o mundo aos pés.

Onde cabem os sonhos?

Parecem encaixotados, escrito e marcados
Prontos para despacho
Mas... e depois?
Depois... não serão durante muito tempo abertos
Ali permanecerão em segredo
Guardados com desvelo
À espera de serem resgatados
Muitos, demais, ali permanecerão
Ganhando pó e teias
E passarão apenas a memórias
Aquela caixa rasurada, guardada no sótão da alma
Já outros, recordados, serão rebuscados
Afinal...
Sonho, não são para serem apenas sonhados
Existe sempre alguém
Que se lembra que os sonhou e guardou
E ao pegar nela, sorri do já esquecido
Escrito estava, em letras garrafais
Sim... é tempo de os realizar
POR FAVOR... USAR...

(Aos meus filhos Santiago e Francisco, que sempre viram o meu brilho, mesmo quando não o refletia) 




 

 

 TEXTO: Ana Acto 

FACEBOOK: http://www.facebook.com/anaacto 

Ana Acto, nasceu a 5 de abril de 1979 em Tomar, Portugal. Abriu em 2018 nas redes sociais uma página de autora com o seu nome onde partilha a sua escrita em poesia, prosa poética e reflexões. Escreve-nos sobre a vida, e sobre o amor em todas as suas vertentes, romantismo, perda, esperança e sensualidade. Participante ativa em saraus e tertúlias poéticas e coautora em mais de vinte obras coletivas. Lançou em 2020 o seu primeiro livro de poesia, intitulado “NUA”. Para além do gosto pelas letras, tem diversas formações em terapias holísticas e alternativas.

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