Mais do mesmo

“Talvez esse tipo de programa represente o retrato fiel do que tem sido a TV brasileira; uma fábrica de alienação coletiva.” 

REVISTA VICEJAR – ATUALIDADE E COMPORTAMENTO 


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_____Como vem acontecendo todos os anos, boa parte da mídia dirige seu arsenal para o famigerado BBB (Big Brother Brasil - para muitos, Banalidade em dose tripla), alcançando altos índices de audiência, segundo a emissora. Embora a propaganda seja bem trabalhada, cabe perguntar o que faz do formato reality show um sucesso? Qual atrativo leva grande parte do público a fixar o olhar durante a exibição de programas dessa natureza? 

_____O que se vê são diálogos inconsistentes, de pessoas vivendo uma falsa rotina, diante de olhares curiosos e ávidos por cenas mais íntimas, envolvendo participantes, sendo a maioria deles dotados de atributos físicos para atrair a atenção do telespectador. Aliás, talvez o apelo estético seja justamente o mais explorado, já que pouco se pode esperar dos candidatos em quesitos mais relevantes. 

_____Depois de algum tempo, o telespectador reveste-se de poder suficiente para decidir o destino dos participantes, muitas vezes contrastando com a incapacidade de resolver a própria vida. Sente-se importante por escolher aquele(a) que vai ganhar uma considerável soma em dinheiro no final de poucas semanas, mas não empenha-se para mudar a sua condição de assalariado mal remunerado de todo mês. 

_____Questiona-se quem dentre os participantes será eleito o mais simpático, bonito ou sexy, mas não acerca do rumo que está sendo traçado pela classe política, especialmente num ano eleitoral. Não percebe que o vencedor do BBB não mudará em nada a sua vida.  

_____Em contrapartida, mostra pouco interesse com relação aos representantes que escolheu para decidirem sobre assuntos como educação, segurança, geração de empregos, Previdência Social e saúde, com a pandemia ainda insistindo em permanecer.  

_____Sem poder interferir diretamente na estrutura televisiva, o telespectador não tem a consciência de que é capaz de influir na grade de programação das emissoras, simplesmente recusando-se a assistir certas atrações. Ao invés disso, acomoda-se em sua poltrona e sujeita-se ao papel de voyeur compulsivo, em busca de cenas picantes, que possam dar algum tempero à vida insossa que provavelmente costuma levar. 

_____Muito embora os apresentadores sejam celebridades, que gozam de certo prestígio no meio artístico, curvam-se ao mesmo patamar de futilidades, optando por trilharem um caminho na contra mão do que se espera de um programa de qualidade, entregando-se à conveniente máxima do “pagando bem, que mal tem”. 

_____Talvez esse tipo de programa represente o retrato fiel do que tem sido a TV brasileira; uma fábrica de alienação coletiva capaz de ditar normas, comportamentos e costumes, de acordo com inúmeros interesses. O telespectador submete-se à modismos da “telinha” e passa a sentir-se “um poço de sabedoria” por assistir a determinados programas, ou por saber cada vez mais das novidades dos bastidores. 

_____Quem vai ganhar? Todos os participantes sairão ganhando de alguma forma. Por muitos não pertencerem ao meio artístico, passarão a ocupar um considerável espaço nas Redes Sociais e na mídia. Alguns irão estampar capas de revistas, dos mais variados gêneros, cujo conteúdo tende a assemelhar-se ao nível do programa, conseguindo os tais “15 minutos de fama”, quase sempre efêmera. 

_____Quem sai perdendo? Não é difícil de responder. Novamente o público, que dedica o seu tempo assistindo a uma atração, que “vai do nada para lugar nenhum”, sem acrescentar algo de relevante à sua vida. 

_____Dessa maneira, na ânsia de conseguir índices de audiência a qualquer preço, as emissoras continuam apresentando cada vez “mais do mesmo”, recheado com a banalidade de sempre. E assim, enquanto a TV vai vendendo os seus produtos, o telespectador continua sendo um comprador de ilusões!... Ou desilusões?... 



Graduado em Licenciatura em Filosofia, escreve poesias, contos e crônicas, com premiações em concursos nacionais e internacionais, tendo textos de gêneros diferentes publicados no exterior. Suas crônicas foram publicadas no Jornal de Piracicaba em 2001, 2002 e 2005. É compositor, em parceria, de 20 músicas, de diversos estilos. É autor de “Mar adentro, mundo afora” (poesias) e “Paredes e tons” (contos), para lançamento em breve (aguardando patrocínio / parceria).
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O articulista atua como Colaborador deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista do autor, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade.

                                                 

Comentários

  1. É um dos processos de imbelizaçao que as mídias têm feito com quase 100% de sucesso...

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    1. Infelizmente é isso mesmo. São 22 anos de um cuidadoso processo "imbecilização", com o objetivo de direcionar o público para os interesses mais escusos. Grato pelo seu comentário. Um abraço, Daisy!

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