Coração Ultrarromântico

“O amor visto como dádiva, redenção que acalenta, mas também sucumbe, retira nossa razão, dando margem às hipóteses daquilo que poderia ser.” 

REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica ) 

 


_____De vez em quando, uma certa melancolia me abate. Lá fora, do outro lado da janela, um vento frio sacoleja as folhas verdes dos benjamins. Como um poeta ultrarromântico, vejo na natureza, a extensão do meu “eu”. E hoje, devo dizer, que meu coração se desenha assim: pequenino diante dos percalços da vida.

_____Levo comigo, um tanto do 2° período romântico, da escola literária do Romantismo (1853-1869), conhecida como a geração “Mal do Século”. Naquele tempo, nossos heróis das letras eram acometidos muito cedo. Doença como a tuberculose ceifou vidas, de jovens universitários que formavam grupos de poetas. Desprovidos do nacionalismo, tema recorrente de seus antecessores. Os ultrarromânticos transmitiam em seus poemas, questões como: pessimismo, egocentrismo, sentimentalismo, assim como também, o apreço pela noite e a morte. Um exemplo disso é a obra póstuma “Noite na Taverna” de Álvares de Azevedo (1831-1852).

_____No entanto, é o medo de amar que marca a essência da poesia ultrarromântica. A idealização do amor e a sua impossibilidade de realização, fervilha e incendeia a poesia dessa geração. Aliás, o sentimento amoroso é sempre fonte de inspiração. E esse descontentamento de amar, regularmente se reproduz na arte.

_____O amor visto como dádiva, redenção que acalenta, mas também sucumbe, retira nossa razão, dando margem às hipóteses daquilo que poderia ser. Para os poetas desse tempo, ou para todos que se julgam nessa mesma poética, o amor não concretizado é a projeção que fazemos de nós mesmos, na pessoa amada.

_____Saudosistas, os ultrarromânticos são enlaçados no pretérito. A nostalgia dos tempos idos, a felicidade impregnada no passado, se torna um refúgio, fortaleza, um mundo paralelo das angústias humanas.

_____A infância, referência muito presente nas poesias de Casimiro de Abreu, abre o deslumbre da pureza e inocência pueril. Quem poderia esquecer os sublimes versos de “Meus oito anos”? Seria a infância um lugar seguro, longe dos desencantos da vida? 

"Oh! que saudade que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonho, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais! (...)"
(Meus oito anos / Casimiro de Abreu) 

_____Os ultrarromânticos nunca saíram de moda. O apego do amor em todo seu universo, prevalece expresso, no som “Exagerado” de Cazuza, nas mensagens enviadas pelo WhatsApp e por que não, nas cartas de amor escondidas, entre as páginas de um livro de literatura.


 TEXTO: Mayanna Velame 
INSTAGRAM: @portugues_amoroso 
Mayanna Velame nasceu em Manaus, em 1983. É graduada em Letras - Língua Portuguesa, pela Universidade Federal do Amazonas. É autora do livro "Português Amoroso" (Editora Madrepérola/Maio de 2020). Escreve periodicamente contos, crônicas e poesias para os sites: "Revista Vicejar", "Revista Conexão Literatura", "Texto Garagem" e "Corvo Literário".
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