"A sorte costuma subverter qualquer possibilidade matemática, indo cair justamente nas mãos de algum indivíduo que muitas vezes fez um ou, no máximo, dois joguinhos."
REVISTA VICEJAR – ARTIGOS E OPINIÕES
_____Quantos de nós fazemos lá a nossa fezinha, nas mais diversas loterias, torcendo para que a sorte venha bater à nossa porta? Entra semana, sai semana, e nada dela encontrar o nosso endereço, não é verdade? Quem de nós nunca teve a curiosidade de saber onde ela reside? Aí pensei comigo mesmo: bem, já que ela não vem até mim, vou sair ao encontro dela. Mas, por onde começar a procurar? De fato, onde será que mora a tal da sorte?
_____A dúvida persistiu por muito tempo, até que, acompanhando o resultado das loterias da Caixa Econômica Federal, eu pude encontrar pelo menos uma pista sobre ela. Notem que toda vez que sai o prêmio de alguma loteria acumulada para um único apostador, especialmente a Mega-Sena, é comum ouvir de qualquer cidadão: “Puxa vida; saiu para alguém que mora lá num fim de mundo!”.
_____Então concluí: a sorte mora num fim de mundo! Se bem que o conceito de fim de mundo é muito relativo. Para quem mora no estado de São Paulo, como é o meu caso, qualquer pequena cidade dos estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste é o que popularmente se convencionou chamar de cafundó. Já para quem vive nessas regiões, nós do Sul ou Sudeste é que fazemos parte do fim de mundo.
_____Não me refiro às capitais ou cidades consideradas de grande porte. Quero dizer vilarejos que muitas vezes nem constam do mapa. São cidadezinhas sem qualquer infraestrutura que, como costumam dizer, estão por conta do destino, dependendo da piedade divina ou, ainda, entregues à própria sorte. E não é que a sorte tem cuidado bem de alguma delas! Basta acumular uma considerável soma em dinheiro em qualquer das loterias existentes, que a “bolada” invariavelmente acaba saindo para um único apostador de um lugarejo qualquer.
_____Isso mesmo, a sorte costuma subverter qualquer probabilidade matemática, indo cair justamente nas mãos de algum indivíduo que muitas vezes fez um ou, no máximo, dois joguinhos. Com tanta gente vivendo nos estados mais populosos do país e, consequentemente, tendo o maior número de apostas, era de se supor que, estatisticamente, seriam contemplados mais apostadores das regiões Sul e Sudeste. Contudo, poucas vezes um sujeito dessas regiões leva o prêmio. Não que apostadores desses estados não ganhem na loteria, mas, quando acumula, ironicamente sai para uma só pessoa de um lugar que nunca, ou pouco, se ouviu falar.
_____Às vezes chego até a pensar que a tal da sorte tem exercido um papel quase que social. Em razão da incompetência das autoridades, parece ter se inspirado em Nêmesis (deusa da justiça equitativa, na mitologia grega), chamando para si a responsabilidade de resolver o problema de distribuição de renda. Dessa forma, ela tem voltado a sua atenção para os menos favorecidos, independente de qualquer prognóstico.
_____É bom ressaltar que em 2010, no concurso 1.155 da Mega-Sena, um único cartão teria sido premiado com pouco mais de R$ 52 milhões, em Novo Hamburgo, considerada uma cidade de grande porte do Rio Grande do Sul (na época, 238 mil habitantes). Porém, o dono da lotérica “Esquina da Sorte” alega que uma funcionária se esqueceu de fazer o jogo. Para cerca de 40 apostadores que tinham participado de um “bolão”, a sorte deu as caras, mas acenou e virou a “esquina”, deixando todos pobres de esperança, inclusive.
_____A despeito disso tudo, muitos chegam a colocar em dúvida os sorteios realizados pela CEF. Entretanto, eu não sou o tipo de sujeito que engrossa essa lista. Afinal, acontecem com presença de público e suponho que sejam fiscalizados e devidamente auditados. Tenho aqui comigo que os sorteios dos concursos são 99% confiáveis. O tal do um por cento fica por conta de alguns desvios verificados ao longo dos anos. Para quem não se lembra, ou desconhece, vale recordar, por exemplo, o caso do já falecido ex-Deputado Federal João Alves, que ganhou na loteria cerca de 200 vezes. Vai ter sorte assim lá no cafundó!
_____Ao ler este texto, o leitor poderia perguntar se por acaso esse cronista nunca vai a uma Casa Lotérica fazer sua fezinha de vez em quando. Mas claro que faço! Uma vez ou outra eu arrisco, sim!
_____Aí, então, quando eu fico na fila esperando chegar a vez da funcionária processar a aposta, sonho com uma “bolada”, me encho de esperança e ilusão pensando: talvez, de repente, a sorte se canse um pouco daquela vida pacata de cidadezinha e resolva vir para um centro mais populoso. Podia ser aqui por Piracicaba, por exemplo. Sendo assim, quem sabe a gente não se encontra um dia, hein?!
OBSERVAÇÃO: Recebeu a 3ª Menção Honrosa no “XXXVIII Concurso Literário Felippe D'Oliveira - Edição 2015”, da cidade Santa Maria-RS, sendo um dos selecionados na modalidade “Crônica”, categoria Nacional. Foram inscritos 708 textos nesse certame (176 crônicas), que teve candidatos de 15 estados do Brasil, além de Japão, Itália e Inglaterra.
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O articulista atua como Colaborador deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista do autor, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade.
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