Schindler: Uma lista para jamais ser esquecida

“Não importa se movido pelos mais diversos interesses, o ser humano tem em seu interior a capacidade de reinventar-se continuamente." 

REVISTA VICEJAR – ARTE E CULTURA ( Cinema ) 

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A lista de Schindler é uma produção estadunidense baseada no livro de Thomas Keneally, dirigida por Steven Spielberg e que recebeu sete estatuetas do Oscar em 1994, dentre elas de melhor filme e melhor direção.

Retrata a vida real do industrial alemão Oskar Schindler, que salvou a vida de mais de mil judeus durante a Segunda Guerra Mundial, ao empregá-los em sua fábrica localizada em Cracóvia, na Polônia, com a ajuda administrativa de Itzhak Stern, um judeu interpretado por Bem Kingsley.

Diante da possibilidade de execução de boa parte desses judeus, Stern providencia documentação a fim de garantir que o maior número possível de prisioneiros sejam vistos como “essenciais” para prestação de serviços importantes para os objetivos nazistas. É considerado um dos melhores filmes de todos os tempos.

Sociedade e liberdade
Ao fazermos uma análise sob o prisma da liberdade, poderíamos incluir aqui praticamente todas as correntes filosóficas, já que os principais objetivos das grandes teorias abordaram em seu conteúdo a questão da liberdade do ser humano.

É importante destacar a contribuição de filósofos relacionados à chamada Escola de Frankfurt, o primeiro centro de pesquisa afiliado a uma universidade alemã. Os estudos lá realizados traçavam um panorama da sócio-político-cultural da realidade germânica que antecederam a Segunda Guerra e a ascensão do nazismo.

Muito embora o termo “Ciências Políticas” tenha sido cunhado há mais de 50 anos antes desse conflito mundial, o estudo faz um exame do exercício do poder e de dominação do homem pelo próprio homem. Analisa a participação do Estado, sistemas políticos, as atitudes governamentais e suas consequências na sociedade.

Hanna Arendt
Para os que viveram no século XX, é inegável que as duas grandes guerras foram os principais acontecimentos que contribuíram para reavaliar os fundamentos de até então. Para isso, é importante compreender o significado e as intervenções de regimes totalitários.

Hannah Arendt foi um dos maiores expoentes da Filosofia Política contemporânea e teve estreito vínculo com os eventos que marcaram o século. Por ser alemã e filha de uma família judia, viveu um conflito particular, que se iniciava dentro de sua própria casa.

Com base especialmente nas vertentes nazista e soviética, escreveu o livro “Origens do totalitarismo”, cujas páginas evidenciam a essência de ideologias nutridas pelo antissemitismo e pelo imperialismo, que enfatizavam o racismo e o nacionalismo, além de eliminar a possibilidade da ação humana.

Além do mais, utiliza-se da propaganda do terror, acabando com individualidade e a liberdade, colocando a vida privada sob constante suspeita. Em “A Lista de Schindler”, vemos o exercício do terror ao extremo, com tratamentos desumanos e execuções sumárias de prisioneiros.

Capacidade de reinventar-se
Para alguns, Oskar Schindler foi, a princípio, um comerciante oportunista, que aproveitou-se da guerra para enriquecimento próprio. No entanto, o mais importante foi a sua atitude posterior, desfazendo-se de boa parte da riqueza que já tinha em mãos para salvar da morte mais de mil judeus, que ele mal conhecia.

Apesar de Thomas Hobbes ter dito que “o homem é o lobo do homem”, resta ao maior predador de si mesmo a reflexão de Hanna Arendt, que mesmo nas adversidades, crê na capacidade humana de iniciar algo novo.

Dessa forma, uma das frases finais mencionadas nessa produção dá suporte ao pensamento de Arendt: “aquele que salva uma vida salva o mundo inteiro (Talmud). Assim, não importa se movido pelos mais diversos interesses, o ser humano tem em seu interior a capacidade de reinventar-se continuamente.

Um filme que dever ser revisitado constantemente, para que se possa estimular a reflexão acerca da nossa ação individual, do relacionamento social e, principalmente, da nossa condição humana.



Graduado em Licenciatura em Filosofia, escreve poesias, contos e crônicas, com premiações em concursos nacionais e internacionais, tendo textos de gêneros diferentes publicados no exterior. Suas crônicas foram publicadas no Jornal de Piracicaba em 2001, 2002 e 2005. É compositor, em parceria, de 20 músicas, de diversos estilos. É autor de “Mar adentro, mundo afora” (poesias) e “Paredes e tons” (contos), para lançamento em breve (aguardando patrocínio / parceria).
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