"Hoje, deixa-me sentar ao teu lado e falar ao ouvido dos teus fantasmas que te são presença indispensável e que os outros não veem."
REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )
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_____Podia dizer-to em qualquer outro dia, mas creio que hoje, domingo, é um bom dia. Porque tem cor de manhã que nos aquece mais um pouco na preguiça vagarosa das horas. E tem o som dos pássaros nas árvores, que começam a preparar os braços vazios para receber o riso morno da primavera. E o céu a esconder-se, envergonhado, por trás das nuvens que procuram o riso de um céu mais azul.
_____Portanto, talvez hoje, que é domingo, suponho que me ouças mais atento, como os amigos que escutam melhor quando o tempo lhes sobra nos dedos e no olhar.
_____Hoje, deixa-me sentar ao teu lado e falar ao ouvido dos teus fantasmas que te são presença indispensável e que os outros não veem.
_____É que quero contar-te um segredo. Um segredo daqueles tão imensos como a própria vida e que, por isso mesmo, não têm nada de secreto. Porque todos o conhecem.
_____Sabes, não vale a pena fugir dos espelhos que tratas como inúteis e aos quais finges que não ligas no teu cansaço escondido, enquanto escreves nas páginas do teu peito cansado, palavras sobre a esperança de alguém vir tocar-te no coração. O peso do tempo é sombra que sempre virá e retornará, mesmo que dês um pontapé nas vidas que não queres ter. Mesmo que durmas enrolado nas dúvidas do abismo a descoberto nas rugosidades dos anos e da tua pele, como uma fenda na estranheza do que em ti se faz noite.
_____São as raízes do teu sangue transportadas pelo fios do tempo, ainda que te dispas de cada um dos teus sonhos, ainda que caminhes à maneira de um desesperançado nos silêncios das paredes da casa onde, tantas vezes, te alimentas das lágrimas desse homem que se acredita vivo para nada.
_____Descobre a urgência de mudares em definitivo o teu mundo, deixares no esquecimento os que te calam a paz que anseias. E entenderes que há desventuras que não são desdita nenhuma, mas apenas o fim possível de todos os destinos do corpo.
_____Não te demores demasiado nas sombras que te cegam. Não te permitas morrer assim, nesse desejo de não te amares.
_____Se me deixares, talvez ainda te encontre uma noite de verão para poderes contar às estrelas o pressentir das palavras claras do teu sol.
_____Afinal, tu sabes, sou capaz de ficar ao teu lado de olhos fechados como me fizeste prometer, para não corromper a imagem que a memória afagou e nela sentires que me permaneces eterno. Como um amor perfeito.
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TEXTO: Paula Freire
FACEBOOK: Flor De Lyz - Poesia & Fotografia
Paula Freire é natural de Lourenço Marques, Moçambique, reside atualmente em Vila Nova de Gaia, Portugal. Com formação académica em Psicologia e especialização em Psicoterapia, dedicou vários anos do seu percurso profissional à formação de adultos, nas áreas das Relações Humanas e do Auto-Conhecimento, bem como à prática de clínica privada. Desde muito cedo desenvolveu o gosto pela leitura e pela escrita, tendo colaborado regularmente com publicações em meios de comunicação da imprensa local. O desenho foi sempre outra das suas paixões, sendo autora das imagens de capa de duas obras poéticas lançadas pela Editora Imagem e Publicações em 2021. É também desta editora o livro de poesia de sua autoria, "Lírio: Flor-de-Lis" (2022). Há alguns anos, descobriu-se no seu ‘amor’ pela arte da fotografia onde aprecia retratar, em particular, a beleza feminina e a dimensão artística dos elementos da natureza, tendo organizado uma exposição com trabalhos seus, na cidade do Porto (a convite da Casa da Beira Alta), em setembro de 2022, sob o título: "Um Outono no Feminino: De Amor e de ser Mulher".
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