“Correnteza de ambição levou a beleza embora;
seu leito corta a cidade e também corta o coração.”
REVISTA VICEJAR - ARTE E CULTURA ( Música )
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MÚSICA: Nas margens da saudade
- Composição: Alex, Zé Roberto e Paulo Paschoalini
- Interpretação: Dênis e Zé Roberto
É triste olhar p'ro rio do jeito que está agora;
lugar onde o peixe pára, só pára poluição.
Correnteza de ambição levou a beleza embora;
seu leito corta a cidade e também corta o coração.
No tempo da seca eu choro o esgoto a céu aberto;
no tempo da chuva eu sei que o céu vai chorar, por certo.
No leito estão as marcas da vida que teve outrora;
nas margens estão os restos da morte em que está agora.
O rio que conduz a vida p'ro seio da natureza,
toda vez que tem enchente provoca tristeza e dor.
Morador ainda insiste em remar contra a correnteza.
O choro da cachoeira é o lamento do Criador.
Animais morrem de sede, aves vão em revoada;
plantas perdem todo o verde, até não sobrar mais nada.
Não vê que matando o rio morre também a cidade;
porque quem semeia vento só vai colher tempestade.
Tem mandi e tem cascudo ainda sobrevivendo;
cardumes de lambaris resistem até demais;
o jaú e o pintado estão desaparecendo;
o dourado que reinava sumiu algum tempo atrás.
Os peixes de muitos quilos hoje eu pesco na memória;
peixe grande como aqueles, só se for contando história.
Pescador conta mentira, mas hoje diz a verdade;
se eu jogar o anzol no rio só vou fisgar a saudade.
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Nasci e ainda moro em Piracicaba, que tem como uma de suas atrações mais conhecidas e encantadoras o Rio Piracicaba, cujas belezas foram fonte de inspiração para músicas, que sempre exultaram o que ele tem de belo, no estilo sertanejo, ritmo característico da região.
Mas o que nos motivou a compor essa música foi justamente o oposto. O descaso recorrente que tem vitimado todo o entorno dos que habitam a bacia hidrográfica conhecida como “Consórcio PCJ”, composta pelos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, que dia após dia vêm se degradando e as autoridades fazem questão de não enxergar.
Porém, o mais alarmante é que esse não é um caso isolado, se levarmos em consideração os noticiários sobre ecologia, que abordam em especial a gestão pública de gestão dos recursos naturais, em especial os mananciais, que não recebem a devida atenção, mesmo com a sua vital importância.
Chegamos a um ponto do chamado “desenvolvimento social”, quando devemos nos questionar a respeito do que se entende como sendo “progresso”. Para o cineasta italiano Gillo Pontecorvo, “O progresso é tudo aquilo que diminui o poder de um homem sobre outro homem.”
Mas o que nos motivou a compor essa música foi justamente o oposto. O descaso recorrente que tem vitimado todo o entorno dos que habitam a bacia hidrográfica conhecida como “Consórcio PCJ”, composta pelos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, que dia após dia vêm se degradando e as autoridades fazem questão de não enxergar.
Porém, o mais alarmante é que esse não é um caso isolado, se levarmos em consideração os noticiários sobre ecologia, que abordam em especial a gestão pública de gestão dos recursos naturais, em especial os mananciais, que não recebem a devida atenção, mesmo com a sua vital importância.
Chegamos a um ponto do chamado “desenvolvimento social”, quando devemos nos questionar a respeito do que se entende como sendo “progresso”. Para o cineasta italiano Gillo Pontecorvo, “O progresso é tudo aquilo que diminui o poder de um homem sobre outro homem.”
Desse modo, a industrialização desenfreada deixa evidente o poder que um homem (ou grupo de homens) exerce sobre aqueles classificados como “inferiores” na hierarquia social. A distância entre a classe dominante e a imensa maioria de dominados nunca foi tão visível e brutal.
Sendo assim, aquilo que se convencionou chamar de “desenvolvimento”, pode ser considerado somente do ponto de vista tecnológico, uma vez que a questão humana ficou relegada a um segundo ou terceiro plano.
Na natureza, o ser humano passou a ser somente um mero “detalhe” e o próprio meio ambiente tornou-se vítima do poder econômico. A água, que é considerada início da vida e fator essencial para mantê-la, agora é o símbolo mais emblemático dessa negligência.
Talvez um dos retratos ambientais do mundo atual seja constatar que a vida de uma cidade deve-se, normalmente, à presença de um rio nas proximidades; ao mesmo tempo, a morte de um rio ocorre, principalmente, pela existência de uma cidade nas imediações.
E a vida segue!... Mas como?... E até quando?...
Fica aqui esse grito de alerta, antes que se perceba que possa ser tarde demais!!!
Fica aqui esse grito de alerta, antes que se perceba que possa ser tarde demais!!!
YOUTUBE: https://www.youtube.com/watch?v=DJBNn4yIIqk
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