Profundamente

“Imaginação é para os ousados e destemidos, sonhadores e lunáticos. Usá-la é permitir viajar para dentro de nós.”

REVISTA VICEJAR – Literatura ( Crônica )


Uma folha de papel sobre a escrivaninha, recebe algumas minuciosas dobraduras. Em mãos, tenho um barquinho de papel. Lá fora, o vento sopra ferinamente os galhos das árvores e gotículas gélidas do céu borrifam meu rosto.

Lentamente, meu barquinho de papel pousa sobre a poça de lama, formada pela água da chuva. Ele navega imperioso, na superfície turva aquática, parece ganhar o mar e todo seu mistério. O frágil barquinho de papel se torna um navio de dimensões colossais, pronto para desbravar as ondas e tormentas.

Profundamente, quando uso a imaginação, cerro meus olhos e transformo bolas de gude em planetas. Soldadinhos de plástico em guardiões, ursinhos de pelúcia em ombro amigo. Imaginação é para os ousados e destemidos, sonhadores e lunáticos. Usá-la é permitir viajar para dentro de nós. É esquecer a realidade que nos importuna, imaginar é abraçar os sonhos.

Em tempos árduos e superficiais, na existência de amores frios e transientes. Criar nosso próprio mundo é romper com as barragens do marasmo. Das tristezas inevitáveis, a imaginação nos cura. Traz para nós o remédio de colorir o mundo, que se desenha em cores frias.

Verdadeiramente, quando usamos a imaginação, o simples globo terrestre que enfeita a prateleira da estante, ganha a vida em movimentos de rotação. A pequena representação do mundo recebe fôlego de vida. Rodopia sem parar e se acolhe em minhas mãos.

Quando a imaginação me usa, pinto casas, escorrego em arco-íris, alcanço o topo dos montes. Durmo em nuvens, acendo corações. Imaginação é para quem sonha, mesmo rodeado de pesadelos.

Viver machuca, mas imaginar, anestesia por alguns instantes, a dor que severamente, ainda reside em nosso ser. Não sejamos reféns de uma geração prostrada e carente de sonhos.

O que nos move a seguirmos em frente? Profundamente, inspiramos e respiramos, na certeza de sempre olharmos para o céu. E na colheita de estrelas, enaltecemos a luz, como guia para nossos passos.



 TEXTO: Mayanna Velame 
INSTAGRAM: @portugues_amoroso 
Mayanna Velame nasceu em Manaus, em 1983. É graduada em Letras - Língua Portuguesa, pela Universidade Federal do Amazonas. É cronista do jornal Comunicação Social de Aparecida do Norte. Escreve periodicamente contos, crônicas e poesias para os sites "Recanto das Letras" e "Texto Garagem".
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A articulista atua como Colaboradora deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista da autora, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade.

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