Os tropeços e a vida

“O espírito da juventude teme as pancadinhas da vida, pois seu desejo é de ser autossuficiente...”

REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )


Remédio amargo sempre curou, a dor no fundo doeu tanto que fortaleceu nossa imunidade diante da dureza da vida. As pancadinhas de tanta leveza fez aguçar nosso espírito, para aquilo que, de maior pudesse vir e ferozmente nos arrebatar.

Quando apanhávamos dos nossos pais, o choro era o consolo suspirado para desejar fugir de casa e nunca mais voltar. Hoje a vida nos dá tantas porradas, que só nos apetece fugir de volta à casa dos pais, num choro sem consolo e muito suspirado.

Um conflito entre ternura e ironia do que nos trás o destino, as escolhas, dúvidas, consequências, não exatamente nesta ordem voluntária. 

               “Queria voltar a  ser criança, porque joelhos ralados curam bem mais rápido
                que os corações partidos.” - ( Clarice Lispector)

Quando brincávamos à bola, caíamos muitas vezes, mas apressadamente nos levantávamos, pois o foco era agarrar com atitude a bola aos pés e marcar o gol vitorioso. Porque será então que, quando os tropeços da vida nos faz cair, levamos tanto tempo a nos recompor e agarrar novamente o foco? Será mais importante e fácil brincar à bola, que perseguir nossos sonhos e enfrentar os desafios?

Sim, talvez esse momento tenha sido importante e memorável... são sempre! E o que seria de nós  sem essas lembranças rotineiras?

Hoje nos recusamos ao amargo remédio, porque tememos o seu dissabor, e assim continuamos a sentir dor, fiel companhia. O espírito da juventude teme as pancadinhas da vida, pois seu desejo é de ser autossuficiente e nunca mais ter de apanhar. A ingenuidade fez morada e quer fazer-nos tropeçar nos tropeços da vida. Sussurrando aos ouvidos...

– Não te levantes tão apressadamente, não há nada para se ver!

Quem dirá de subir ao alto do pé de manga, goiaba, jaca, ação voluntária e delicioso é o seu prazer. Também apronta-se para perseguir, agarrar, subir os sonhos da vida. Só tens que fazê-lo como dantes... subir, subir, subir! Fácil, não?

O problema é que essa vívida memória tem medo agora; Porque  subir ao alto da árvore, se a fruta vem embalada e lavada? Eis aí, uma grande rasteira da vida, e vamos tropeçar. Ela não  vem com manual embalado pronto a consumir, e fingimos que não sabemos disto.

Se continuássemos com remédio amargo, pancadinhas leves, tropeços que faz feridas aos joelhos, cicatrizes imortalizadas na sensível pele, lembranças doridas.

Estaríamos pronto para subir todas as árvores da vida... Deu vontade né?








 TEXTO: Flaviane Borges  
FACEBOOK: Depois-daqueles-dias 
Flaviane Borges Gomes, nascida aos 25 de setembro de 1981, em Dom Cavati, interior de Minas Gerais. Completou seus estudos na Escola Estadual Profa. Ilma de Lana Emerik Caldeira, em 1999. Despertou gosto pela escrita desde muito cedo, embora tenha um vasto material escrito, dentre poesias, frases filosóficas, textos e afins, o que fez por amor à escrita em seus momentos sós. Participou da Antologia "Arte em Poesia", pela Editora Sol. É autora da "Página depois daqueles dias", que leva o nome do seu primeiro livro a ser publicado em breve. Hoje luso-brasileira, reside em Portugal, onde continua sua jornada no mundo da escrita.
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Comentários

  1. Me fez lembra minha infância, quantos tombos tomei fazendo tudo isso que foi citado por suas palavras, parabéns pelo textos simplesmente lindo... Amei

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