Sob o sol de Agosto

“A natureza a todo instante dá-nos sinais, buscando uma comunicação com nosso desenfreado barulho...”

REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica )


 

_____O dia estava lindo naquela aldeia em terras de Espanha, o sol bronzeava as faces pouco rosada, finos traços que deixou a primavera.

_____O barulho do rio ousava penetrar o silêncio dos casais deitados confortavelmente no gramado esverdeado, quem dirá o silêncio de um beijo selado e imortalizado naquele lindo cenário. Sentei-me à beira do rio com os pés mergulhados naquela água térmica, deixando me banhar pelo sol, e ausentando de mim mesma, só me permitia ouvir a natureza.

_____As crianças se debatiam dentro d'água, outras corriam e gritavam, mas era como gestos e ações isoladas... Exceção de uma delas que alegremente, se deixava levar pelo balançar de um velho baloiço, que conforme ia e vinha o ferro fazia fricção um no outro emitindo um som como o cantar de um pássaro.

_____Logo em seguida um pássaro pousado ao alto de uma árvore começou a responder a esse som de forma igual... seguindo assim um cantarolar de algo inanimado misturada a alegria daquele bichinho.

_____A natureza a todo instante dá-nos sinais, buscando uma comunicação com nosso desenfreado barulho, imitando os sons de nossos apressados passos a fim de nos convidar a cantarolar uma canção, respirar seu ar puro, molhar os pés nas fontes, banhar-nos ao sol do meio-dia e permitir que o vento beije nossa rosada face. 

_____Aquele  pequeno ser, se permitiu entrar em nosso mundo “inanimado” e aconchegou do chiar daquele velho baloiço. E nós, seres tão “grandes” por vezes infindas, não  temos essa sensibilidade, porque buscamos sempre uma razão para justificar o que vemos, ouvimos e sentimos, temos a necessidade de que tudo deve ser concreto, palpável e credível com selo registrado. 

_____Não  nos permitimos adentrar o universo em nossa volta e transformarmos a inquietude em essência da qual nós mesmos fazemos parte. 

_____Somos vazios cheios de nadas, somos um peso carnal desprovidos de medidas, somos a alma frente ao desconhecido, olhos que não veem, mãos que não tocam e não sentem, coração que não ouve senão seu próprio bater. Somos tanto que esquecemos, que quem mais se doa é quem mais recebe, ao nos doarmos emprestamos ao Criador. 

_____Ao permitir ouvir o outro, passamos a fazer parte de uma mesma melodia e essa canção tem poder de transformar tristeza em alegria, inquietude em momentos de paz, tem poder de fazer com que olhemos o mundo com os olhos do outro, e quem sabe até ouvir as batidas de seu coração.  

_____Imitar os sons da natureza, aprender com os animais, sorrir como uma criança, olhar para o rio e perceber que o que ficou pra trás não volta mais, que viver é seguir o seu curso, num silêncio profundo, sem discutir com o obstáculo, mas proporcionar a quem adentra sua profundidade uma experiência única. 

_____Viver é isso... saber que tudo que está a nossa volta, tem poder para nos moldar, ensinando-nos que não somos confrontados e sim desafiados, até mesmo por algo inanimado, a sermos cada vez melhores, cada vez mais humanos, porque não há nada mais encantador que viver, mas até disto nos temos esquecido.

_____Mas vale ressaltar que, os pássaros ainda cantam!









 TEXTO: Flaviane Borges  
FACEBOOK: Depois-daqueles-dias 
Flaviane Borges Gomes, nascida aos 25 de setembro de 1981, em Dom Cavati, interior de Minas Gerais. Completou seus estudos na Escola Estadual Profa. Ilma de Lana Emerik Caldeira, em 1999. Despertou gosto pela escrita desde muito cedo, embora tenha um vasto material escrito, dentre poesias, frases filosóficas, textos e afins, o que fez por amor à escrita em seus momentos sós. Participou da Antologia "Arte em Poesia", pela Editora Sol. É autora da "Página depois daqueles dias", que leva o nome do seu primeiro livro a ser publicado em breve. Hoje luso-brasileira, reside em Portugal, onde continua sua jornada no mundo da escrita.
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A articulista atua como Colaboradora deste Blog e o texto acima expressa somente o ponto de vista da autora, sendo o conteúdo de sua total responsabilidade.

Comentários

  1. Belíssimo, nobre e querida poetisa!!! Muito sensível ao instante! Isso é viver!

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