Entardecer em Petrolina

“O infinito azul, figurava nuvens ruborizadas. Estrelas brilhantes piscavam como sinalizadores do espaço.”

REVISTA VICEJAR – LITERATURA ( Crônica ) 



_____A viagem seria longa. Horas me separavam de Manaus, isso não me causava qualquer receio ou impaciência. Viajar sempre é preciso... 

_____Sobrevoando o céu do Nordeste, a aeronave aterrissou em Petrolina para abastecer e embarcar novos passageiros. Sentada na poltrona, ao lado da janela. Eu me sentia como mais uma viajante, daquele voo cujo destino se resumia em levar e trazer vidas. 

_____Depois de alguns minutos, a tripulação anunciou a decolagem. Ao meu lado, um jovem apertava o cinto e inspirava fundo, na tentativa de afugentar o medo de voar. Sem aparentar indícios de conversa, concentrei-me nos movimentos do avião. 

_____O arrebol fervilhava no horizonte, o céu era tingido em tons dourados, que lembravam resquícios de ouro salpicados entre as nuvens. Lá embaixo, Petrolina com suas casas, prédios e plantações. A ponte Presidente Dutra era semelhante a uma régua traçada entre as águas do Rio São Francisco. Os carros minúsculos transitavam de um lado para outro, buscavam seus caminhos... 

_____Como um gigante a observar o que se tem sob seus pés. Petrolina se rendia a mim, incrustada naquele lugar que somente a ela pertencia. No meu olhar, a cidade desenhava sua forma. E num inibido momento, pensei em seu sotaque, no seu clima, nos seus costumes e nas pessoas que chegavam e seguiam. 

_____A efemeridade daquele momento fora capaz de ativar minhas saudações. A 36.000 pés, meus olhos já não alcançavam a cidade que me dera apreço. O infinito azul, figurava nuvens ruborizadas. Estrelas brilhantes piscavam como sinalizadores do espaço. 

_____Ébria no balançar das frequentes turbulências. O tempo me trouxe de volta a Manaus. Até hoje me recordo daquele voo. O entardecer em Petrolina me tem como lembrança. Durante alguns momentos, fomos cúmplices da solidão que nos envolveu. Assim como também, do amor. Esse objeto precioso, guardado em alguma bagagem, de quem precisa partir. 


 TEXTO: Mayanna Velame 
INSTAGRAM: @portugues_amoroso 
Mayanna Velame nasceu em Manaus, em 1983. É graduada em Letras - Língua Portuguesa, pela Universidade Federal do Amazonas. É autora do livro "Português Amoroso" (Editora Madrepérola/Maio de 2020). Escreve periodicamente contos, crônicas e poesias para os sites: "Revista Vicejar", "Revista Conexão Literatura", "Texto Garagem" e "Corvo Literário".
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